A arte não é apenas entretenimento. Ela também provoca reflexão e transformação. No caso da literatura, esta ainda proporciona a aquisição de um repertório lingüístico mais complexo, sem o qual não é possível haver conhecimento, uma vez que todo o conhecimento humano passa pela linguagem; ou como proferiu Wittgenstein: “As fronteiras da minha linguagem são as fronteiras do meu universo”.
A ruptura promovida pelo Modernismo e a chegada e estabelecimento da Pós-Modernidade são argumentos de sobra para a ruína de uma visão romântica e conservadora sobre o que é literatura.
Em todos os suportes e mídias, em todos os gêneros; sejam eles orais, escritos ou audiovisual; a linguagem é usada de forma artística, logo, é objeto necessário dos estudos literários. Assim, ao estudar a Literatura hoje, devemos abraçar toda e qualquer forma de expressão verbal artística e intelectual. Isto abrange desde as formas mais ancestrais (epopeia, novela, romance, conto, crônica, ensaio, epístola, manifesto, poesia lírica, letra de música, poesia concreta, teatro, ópera...) até as novas modalidades (roteiro de cinema, teledramaturgia, cartum, charge, gibi, quadrinhos, spot de rádio, outdoor, slogan, peças publicitárias para a TV, propaganda em geral, stand up comedy, blog, fanfic etc).
Todos os gêneros textuais e todos os suportes de comunicação e expressão devem ser contemplados pelo estudo literário e assim devem ser objeto de reflexão do profissional graduado em Letras, sobretudo aqueles com especialização em Literatura.
Esse profissional é o crítico literário, ou seja, um crítico de arte especializado na arte da linguagem. Ele analisa o argumento (enredo), o contexto, o discurso, as ideologias, as ferramentas retóricas utilizadas, o efeito proposto, o efeito obtido, a importância política, a forma, o conteúdo; o valor sócio-cultural, filosófico, pedagógico, histórico, além do valor estético.
O crítico literário é, portanto, um filósofo da arte verbal. No estudo de Literatura e Teoria da Literatura, o graduando em Letras deve obter as ferramentas para compreender a arte literária, sua importância e função, tanto nos suportes tradicionais (livro, teatro, folhetim, música...) quanto nos mais atuais (rádio, cinema, revista, TV, internet).
O crítico literário é um guardião da história, um defensor de tradições, um curador do folclore, ou seja, um estudioso da cultura que define a identidade nacional de um povo. Mas ele também é um pensador, um formador de opinião, um crítico das ideologias, consequentemente, sua função essencial é pesquisar, produzir e inovar.
Sem a arte não há espírito humano. A arte é a expressão máxima de técnica aliada a sentimento, racionalidade aliada a experiência, idealismo aliado a empirismo, tradição aliada a ruptura. A arte define e revela quem somos, que mitos cultivamos, em que ideais estéticos nos espelhamos, quais sentimentos escondemos e quais repudiamos. Como disse Lacan: “o artista precede o psicanalista”.
Logo, o crítico literário é também um leitor e intérprete das metáforas e alegorias da vida; um contemplador dos mitos, lendas, símbolos, arquétipos e investigador de seus significados; um observador atento da sociedade e um estudante da psique humana.