sexta-feira, 15 de abril de 2011

4ª postagem (mais de Bocage)

A poesia é uma das minhas muitas paixões (a maioria delas, não correspondidas). A música, por exemplo, é outra de minhas paixões, mas ela parece me odiar. Por que, oh, música, desprezaste a minha voz?

Desde que desisti de ser cantor comecei a usar mais a voz mental e silenciosa do pensamento. É precisamente esta voz que uso para escrever. Observe que nem tudo são tormentas. Mas e se eu tivesse sido um jogador de futebol sem talento, haveria um pé mental para substituir o dom negado?

Falando em tormentas, mencionei na postagem anterior a humilhação pela qual Bocage provavelmente passou em sua estadia na prisão. Mas como na vida nem tudo são tormentas, também na vida do poeta houve mar de rosas.

O epitáfio de Bocage, cujos últimos versos dizem:

“Aqui dorme Bocage, o putanheiro:
Passou a vida folgada, e milagrosa:
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro".

Deixa claro duas coisas: 1- Bocage sofreu, mas também colheu os louros da fama; e 2- Bocage era bem desbocado (já no século XVIII).

Já o “Soneto do membro monstruoso” (também de Bocage) não citarei aqui para não assustar as minhas respeitáveis leitoras.

Mas, por favor, não julguem mal o poeta. Um homem cuja musa inspiradora se casou com seu próprio irmão (irmão de Bocage, não dela), tem razões justificáveis para ser desbocado.

Bocage era um poeta de pelo menos duas faces: uma satírica e outra muito séria (e sofrida). Vale a pena conhecer os outros sonetos de Bocage, lê-los significa romper com a imagem (senso comum) do poeta estritamente burlesco. Bocage possui uma produção muito respeitável que não pode ser ofuscada por rótulo nenhum.

Fica a dica literária desta semana.

2 comentários: