Todos os anos são divulgadas as “pérolas dos estudantes” ou as “pérolas do ENEM”. A lista é vorazmente aguardada por internautas, jornalistas, blogueiros e curiosos de plantão. Mas o que em muitos provoca riso, deveria despertar mais preocupação.
A reação do riso, nesses casos, é uma autodefesa, uma forma de não se ver implicado no caos da educação. Mas a verdade é que todos nós, como cidadãos, somos responsáveis pela educação, e se ela falha, toda a sociedade falhou com o seu papel.
A educação virou motivo de piada? Não, é mais fácil rir do que corrigir o sistema. Isso é preocupante, porque o Brasil, hoje a sétima economia mundial, atravessa um momento inédito na sua história, um índice de crescimento exclusivo de países do BRIC. Mas como manter esse crescimento de forma sustentável? Sem investimento em pesquisa, esse dever de casa se torna impossível. Daí a importância da melhoria de nossas universidades.
Mas a educação é como uma receita de pudim, não se pode priorizar a qualidade de apenas um ingrediente, porque todos eles são igualmente importantes. A universidade deve estar bem, o ensino médio deve estar bem, o profissionalizante também, o fundamental também, o infantil idem e a alfabetização de adultos a mesma coisa. Não se deve priorizar um em detrimento dos outros, pois todos eles são partes relevantes de um mesmo sistema. Infelizmente, o que acontece é o oposto. Cada governo foca apenas em uma parte, naquela que julga mais interessante para o momento, como se as partes não compusessem um todo.
O estudante se sente como no jogo do Mario, pulando de fase em fase, como se o objetivo da vida fosse passar por cada fase, ao invés de aprender em cada uma delas. O professor se sente refém, de mãos atadas perante a violência nas escolas, o investimento precário e sua jornada penosa.
Também é errado priorizar determinadas áreas do conhecimento em detrimento de outras. Construção civil, petróleo, medicina, esporte... são coisas importantes, mas pintura, literatura, música, filosofia... têm igual importância (na educação, no mercado de trabalho e na vida pessoal). O Brasil já produziu vários Rogério Ceni, Kaká e Ronaldinhos nas mais diversas disciplinas. Alberto Santos Dumont foi o Pelé da aviação! Todos os outros que dizem ter voado, não possuem provas que atestem o fato, apenas Santos Dumont comprovou seus feitos e passou adiante sua invenção. Osvaldo Cruz e Carlos Chagas foram alguns dos maiores artilheiros da pesquisa epidemiológica brasileira. O primeiro por ter comprovado que as doenças tropicais não eram causadas em decorrência da miscigenação de raças, como se pensava, mas por micro-organismos transmitidos pelos mosquitos. Já o segundo por ter descrito completamente uma doença infecciosa. E o que dizer de Oscar Niemeyer? Com que tática ele desenha! E Oswaldo Aranha, o primeiro diplomata a discursar na primeira sessão da ONU, um gol de placa! E Chico Mendes, e os irmãos Villas-Boas, e o marechal Cândido Rondon? Zagueiros da ecologia e do indianismo! E Augusto Ruschi, autoridade mundial em beija-flores e orquídeas, foi um dos primeiros homens a denunciar os efeitos danosos do DDT, a enfrentar a ditadura militar e denunciar o início da derrubada da Floresta Amazônica, a prever a escassez de água no mundo, a prever o aquecimento global, a denunciar o efeito danoso da agricultura em larga escala.... Atribui-se ao brasileiro a ideia original das reservas ecológicas como espaços de preservação de espécies (obrigado, Wikipedia, por essa!).
O que falta na educação hoje para que o Brasil produza outro Augusto Ruschi, outro Oscar Niemeyer, outro José de Alencar, outro Machado de Assis, outra Tarcila do Amaral, outro Heitor Villa-Lobos, outro Tom Jobim? O Rock in Rio vem aí, atraindo turistas brasileiros e estrangeiros. Mas o que o rock nacional de hoje tem para mostrar nesses palcos?
É claro que as “pérolas” das provas estudantis não são o real problema, mas são um sintoma que merece preocupação, não gargalhadas. É passada a hora da sociedade deixar de exercer esse papel infernal de paparazzo de estudante (atualizando Foucault). A família e a comunidade devem participar ativamente da educação de crianças e jovens. E nas palavras da presidenta eleita: “professoras e professores são a verdadeira autoridade da educação” – infelizmente, eles perdem a luta para os burocratas e paparazzi infiltrados nas escolas do país.
Há mais de 2 mil anos, Platão sonhou com uma República comandada por filósofos. Espantoso ver hoje como a vontade de uns burocratas da educação tornou esse sonho tão distante! Porém, ainda assim, possível. Para não me alongar mais, deixo este pensamento para a véspera do feriadão:
“Quem ama, educa”.
(Içami Tiba)
Bacana o texto. Compartilho esta visão sobre a educação. Aos paparazzos, da educação e demais áreas: rir é fácil, fazer é difícil. E no Brasil atual, como vc bem disse,ainda há muito a ser feito!
ResponderExcluirAbs,
Lígia
Eu quero muito uma frase de algusto ruchi
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