Woody estava certo! Acordei de bom humor e acho que daqui a dois dias poderei rir de pessoas que ouvem música alta, no meio da madrugada, embaixo de sua janela.
Aviso: Talvez a partir desta terceira postagem eu deixe de incluir esses numerais ordinais (primeira, segunda, terceira...) nos títulos dos textos; por isso não estranhe, faz parte da minha mania de desorganização.
Hoje gostaria de compartilhar com os meus... dois leitores o que consideraria a minha face mais brega: a de poeta. Não que eu considere a poesia algo brega, muito pelo contrário, mas é que eu considero a minha produção poética um tanto, como direi... brega? Deixo ao julgamento dos meus fiéis (dois) leitores que me acompanham desde quando estreei meu blog.
O poema que postarei aqui foi inspirado no mais conhecido soneto de Camões. Infelizmente, dada a correria frenética dos tempos atuais, muitas pessoas não leram o soneto original de Camões, mas para encurtar a história, trata-se daquele poema que Renato Russo cantava na canção intitulada Monte Castelo. A diferença do soneto de Camões para a canção Monte Castelo são os versos que Renato Russo acrescentou, versos estes que foram retirados da Bíblia (1 Coríntios 13).
Há duas principais diferenças entre o meu soneto e o de Camões:
1- O de Camões fala do amor erótico, carnal: a paixão. Já o meu soneto fala do amor fraternal, espiritual: a compaixão.
2- O soneto de Camões é realmente um soneto. O meu é uma tentativa, mas mesmo assim, espero que gostem:
Soneto do amor
O amor é um Deus que habita no Homem;
É um materno toque no cuidar;
É um pai que ajuda a levantar;
É a saudade do hoje e de ontem;
É bem querer a outrem como a si;
É divino se dar ao perdoar;
É o ser livre no ato de servir;
É impor disciplina ao educar;
É dar tempo, mas nunca ser ausente;
É a única forma de conhecer;
É cativar sem ter que dar presente;
É ajuda que se dá sem receber;
É ser um mestre em ver os próprios erros;
É praticar esse Deus no viver.
Outro grande poeta, Bocage (o primeiro é Camões, não eu), escreveu um soneto em homenagem a Camões, o qual reproduzirei aqui sua última estrofe:
“Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza”.
Não te imito nos dons da Natureza”.
Bocage estava aí comparando o seu fado, seu duro destino, aos infortúnios pelos quais Camões passara em vida. Mas com muita elegância, Bocage considerava-se inferior a Camões nos “dons da Natureza”, ou seja, na arte de fazer poesia.
Realmente, ambos os poetas tiveram em vida muitas desventuras. Camões perdeu um olho em batalha; Bocage, desconfio eu, tenha tido violado o seu terceiro olho enquanto era torturado na masmorra. Isso foi o que interpretei do soneto de Bocage “Em Sórdida masmorra aferrolhado”, quando diz “Os membros quase nus, o aspecto honrado/ Por vil boca e vil mão, roto e cuspido” e mais adiante menciona “O penetrante, o bárbaro instrumento (...) já na mão do algoz cruento”.
Acredito que as adversidades da vida tenham feito de Camões, Bocage (e Renato Russo) grandes poetas. Se for assim, fico agradecido e aliviado por eu não ser um grande poeta. O preço da arte é muito alto quando o seu “aspecto honrado” se vê violado por um “penetrante, bárbaro instrumento”.
O meu “aspecto honrado” eu o descreveria em linguagem de informática: é periférico só de saída, nunca de entrada!
Estou acompanhando seus textos, Renam. Não conhecia o seu lado poeta, até hoje.
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