quinta-feira, 14 de abril de 2011

Terceira postagem: Meu lado brega.

Woody estava certo! Acordei de bom humor e acho que daqui a dois dias poderei rir de pessoas que ouvem música alta, no meio da madrugada, embaixo de sua janela.

Aviso: Talvez a partir desta terceira postagem eu deixe de incluir esses numerais ordinais (primeira, segunda, terceira...) nos títulos dos textos; por isso não estranhe, faz parte da minha mania de desorganização.

Hoje gostaria de compartilhar com os meus... dois leitores o que consideraria a minha face mais brega: a de poeta. Não que eu considere a poesia algo brega, muito pelo contrário, mas é que eu considero a minha produção poética um tanto, como direi... brega? Deixo ao julgamento dos meus fiéis (dois) leitores que me acompanham desde quando estreei meu blog.

O poema que postarei aqui foi inspirado no mais conhecido soneto de Camões.  Infelizmente, dada a correria frenética dos tempos atuais, muitas pessoas não leram o soneto original de Camões, mas para encurtar a história, trata-se daquele poema que Renato Russo cantava na canção intitulada Monte Castelo. A diferença do soneto de Camões para a canção Monte Castelo são os versos que Renato Russo acrescentou, versos estes que foram retirados da Bíblia (1 Coríntios 13).

Há duas principais diferenças entre o meu soneto e o de Camões:
1- O de Camões fala do amor erótico, carnal: a paixão. Já o meu soneto fala do amor fraternal, espiritual: a compaixão.
2- O soneto de Camões é realmente um soneto. O meu é uma tentativa, mas mesmo assim, espero que gostem:


Soneto do amor

O amor é um Deus que habita no Homem;
É um materno toque no cuidar;
É um pai que ajuda a levantar;
É a saudade do hoje e de ontem;

É bem querer a outrem como a si;
É divino se dar ao perdoar;
É o ser livre no ato de servir;
É impor disciplina ao educar;

É dar tempo, mas nunca ser ausente;
É a única forma de conhecer;
É cativar sem ter que dar presente;

É ajuda que se dá sem receber;
É ser um mestre em ver os próprios erros;
É praticar esse Deus no viver.


Outro grande poeta, Bocage (o primeiro é Camões, não eu), escreveu um soneto em homenagem a Camões, o qual reproduzirei aqui sua última estrofe:

“Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza”.

Bocage estava aí comparando o seu fado, seu duro destino, aos infortúnios pelos quais Camões passara em vida. Mas com muita elegância, Bocage considerava-se inferior a Camões nos “dons da Natureza”, ou seja, na arte de fazer poesia.

Realmente, ambos os poetas tiveram em vida muitas desventuras. Camões perdeu um olho em batalha; Bocage, desconfio eu, tenha tido violado o seu terceiro olho enquanto era torturado na masmorra. Isso foi o que interpretei do soneto de Bocage “Em Sórdida masmorra aferrolhado”, quando diz “Os membros quase nus, o aspecto honrado/ Por vil boca e vil mão, roto e cuspido” e mais adiante menciona “O penetrante, o bárbaro instrumento (...) já na mão do algoz cruento”.

Acredito que as adversidades da vida tenham feito de Camões, Bocage (e Renato Russo) grandes poetas. Se for assim, fico agradecido e aliviado por eu não ser um grande poeta. O preço da arte é muito alto quando o seu “aspecto honrado” se vê violado por um “penetrante, bárbaro instrumento”.

O meu “aspecto honrado” eu o descreveria em linguagem de informática: é periférico só de saída, nunca de entrada!

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