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1 - O livro didático aprovado pelo MEC (do qual eles falam na matéria jornalística) ensina a gramática tradicional, normativa, com todas as regras e exceções que estudamos no segundo grau. Apenas em um pequeno trecho de um capítulo, o livro menciona a variação linguística. Mas os jornalistas falam do livro como se ele ensinasse a "língua errada" em todos os capítulos.
2 - Os argumentos do jornalista Alexandre Garcia manipulam a realidade dos fatos.
Fato: as aprovações "automáticas" em escolas públicas não acontecem para "evitar o constrangimento do aluno". A verdade é que o número de vagas é limitado. Todos os anos é preciso criar vagas para novos alunos. Como as escolas não têm vagas, elas aprovam todos os que lá estudam, logo, alguns deles subirão de série e outros se formarão e sairão da escola. Assim são criadas as vagas para os novos estudantes que chegarão. Este é o real problema, mas Alexandre Garcia não enxerga isso, e pior, ele culpa a qualidade de ensino.
Os exemplos citados por Alexandre Garcia (Coreia do Sul e China) realmente ilustram uma alta qualidade de educação. Porém, falar em variação linguística na escola não diminui em nada a qualidade da educação, pelo contrário. O jornalista é tão leigo no assunto, que desconhece o fato de que a variação linguística já é estudada em todo o mundo há décadas. Isso começou nos EUA, na década de 1960. Não duvide que a variação linguística também é estudada na Coreia, China, Japão, Reino Unido, Noruega etc.
O jornalista desconhece o significado do termo "preconceito linguístico", mas fala como se conhecesse. Alexandre ignora que a linguagem usada por ele não é o "padrão" que ele mesmo defende. Ele condena tanto o "erro" e não nota os próprios "erros" que costuma cometer em vários de seus comentários.
3 - O "especialista" convidado para a entrevista, o professor Sérgio Nogueira, não é especialista em Linguística. Pelo contrário, ele é um professor tradicionalista e muito conhecido entre os acadêmicos por combater a Linguística Moderna. Como professor, ele deveria se atualizar das pesquisas recentes e valorizar a opinião de acadêmicos (pesquisadores e cientistas da língua) ao invés de ignorá-los e até criticá-los.
Nogueira começa dizendo que Alexandre Garcia “foi brilhante em sua fala” e depois até manda um “abraço para ele”.
Contudo, mesmo sendo tradicionalista, às vezes, Nogueira tem algumas opiniões positivas sobre a variação linguística (ou seja, ele não é tão radical). Mas repare que quando ele começa a defender a variação linguística dizendo "as variações linguísticas são valorizadas, até aí tudo bem" e "ensinar os alunos a não serem preconceituosos é função de todo professor" a jornalista o interrompe. Ou seja, a fala do "especialista convidado" já não atende aos interesses, já não serve para o jornal.
4- A jornalista ao interromper o professor diz "gostaríamos de mostrar às pessoas que estão em casa o que está nesse livro aprovado pelo MEC". Isto é uma tentativa de persuadir (emocionalmente) a opinião do telespectador, fazendo-o concordar com a opinião do jornal, ou seja, a opinião de que o livro ensina “português errado e isto é um absurdo”.
Quem conhece o livro nota imediatamente que o exemplo mostrado no jornal está totalmente fora de contexto. Eles suprimiram várias partes importantes, fazendo o telespectador crer que o livro é aquilo mesmo. Note que o livro real NÃO é mostrado, o que é mostrado é uma imagem manipulada, feita em computador.
O professor cita de forma elogiosa o Soletrando (quadro do programa de Luciano Huck, na Rede Globo). No final o professor também elogia a linguagem da Rede Globo classificando-a como "linguagem padrão". Fazendo isso, ele supervaloriza a linguagem do Sudeste (especialmente RJ e SP) e desqualifica todas as outras linguagens do Brasil.
Ora, um professor que elogia tanto assim a Rede Globo, obviamente seria o convidado perfeito. Ele não foi convidado para estar ali por acaso. Sérgio Nogueira é consultor da emissora carioca. Ou seja, ele é pago pela Rede Globo, logo, seu ponto de vista não é nada imparcial.
Um doutor em Linguística (que recebe seu salário de uma Universidade Federal) nunca estaria naquela cadeira como convidado. Este sim, poderia emitir uma opinião bem embasada e imparcial, sem comprometimento com a emissora.
Especialistas de verdade são os acadêmicos (pesquisadores e cientistas) e não consultores de jornais.
Abaixo, envio links para textos de Marcos Bagno (Doutor em Filologia e Língua Portuguesa, Linguísta, tradutor, escritor e professor da Universidade de Brasília).
1 - O livro didático aprovado pelo MEC (do qual eles falam na matéria jornalística) ensina a gramática tradicional, normativa, com todas as regras e exceções que estudamos no segundo grau. Apenas em um pequeno trecho de um capítulo, o livro menciona a variação linguística. Mas os jornalistas falam do livro como se ele ensinasse a "língua errada" em todos os capítulos.
2 - Os argumentos do jornalista Alexandre Garcia manipulam a realidade dos fatos.
Fato: as aprovações "automáticas" em escolas públicas não acontecem para "evitar o constrangimento do aluno". A verdade é que o número de vagas é limitado. Todos os anos é preciso criar vagas para novos alunos. Como as escolas não têm vagas, elas aprovam todos os que lá estudam, logo, alguns deles subirão de série e outros se formarão e sairão da escola. Assim são criadas as vagas para os novos estudantes que chegarão. Este é o real problema, mas Alexandre Garcia não enxerga isso, e pior, ele culpa a qualidade de ensino.
Os exemplos citados por Alexandre Garcia (Coreia do Sul e China) realmente ilustram uma alta qualidade de educação. Porém, falar em variação linguística na escola não diminui em nada a qualidade da educação, pelo contrário. O jornalista é tão leigo no assunto, que desconhece o fato de que a variação linguística já é estudada em todo o mundo há décadas. Isso começou nos EUA, na década de 1960. Não duvide que a variação linguística também é estudada na Coreia, China, Japão, Reino Unido, Noruega etc.
O jornalista desconhece o significado do termo "preconceito linguístico", mas fala como se conhecesse. Alexandre ignora que a linguagem usada por ele não é o "padrão" que ele mesmo defende. Ele condena tanto o "erro" e não nota os próprios "erros" que costuma cometer em vários de seus comentários.
3 - O "especialista" convidado para a entrevista, o professor Sérgio Nogueira, não é especialista em Linguística. Pelo contrário, ele é um professor tradicionalista e muito conhecido entre os acadêmicos por combater a Linguística Moderna. Como professor, ele deveria se atualizar das pesquisas recentes e valorizar a opinião de acadêmicos (pesquisadores e cientistas da língua) ao invés de ignorá-los e até criticá-los.
Nogueira começa dizendo que Alexandre Garcia “foi brilhante em sua fala” e depois até manda um “abraço para ele”.
Contudo, mesmo sendo tradicionalista, às vezes, Nogueira tem algumas opiniões positivas sobre a variação linguística (ou seja, ele não é tão radical). Mas repare que quando ele começa a defender a variação linguística dizendo "as variações linguísticas são valorizadas, até aí tudo bem" e "ensinar os alunos a não serem preconceituosos é função de todo professor" a jornalista o interrompe. Ou seja, a fala do "especialista convidado" já não atende aos interesses, já não serve para o jornal.
4- A jornalista ao interromper o professor diz "gostaríamos de mostrar às pessoas que estão em casa o que está nesse livro aprovado pelo MEC". Isto é uma tentativa de persuadir (emocionalmente) a opinião do telespectador, fazendo-o concordar com a opinião do jornal, ou seja, a opinião de que o livro ensina “português errado e isto é um absurdo”.
Quem conhece o livro nota imediatamente que o exemplo mostrado no jornal está totalmente fora de contexto. Eles suprimiram várias partes importantes, fazendo o telespectador crer que o livro é aquilo mesmo. Note que o livro real NÃO é mostrado, o que é mostrado é uma imagem manipulada, feita em computador.
O professor cita de forma elogiosa o Soletrando (quadro do programa de Luciano Huck, na Rede Globo). No final o professor também elogia a linguagem da Rede Globo classificando-a como "linguagem padrão". Fazendo isso, ele supervaloriza a linguagem do Sudeste (especialmente RJ e SP) e desqualifica todas as outras linguagens do Brasil.
Ora, um professor que elogia tanto assim a Rede Globo, obviamente seria o convidado perfeito. Ele não foi convidado para estar ali por acaso. Sérgio Nogueira é consultor da emissora carioca. Ou seja, ele é pago pela Rede Globo, logo, seu ponto de vista não é nada imparcial.
Um doutor em Linguística (que recebe seu salário de uma Universidade Federal) nunca estaria naquela cadeira como convidado. Este sim, poderia emitir uma opinião bem embasada e imparcial, sem comprometimento com a emissora.
Especialistas de verdade são os acadêmicos (pesquisadores e cientistas) e não consultores de jornais.
Abaixo, envio links para textos de Marcos Bagno (Doutor em Filologia e Língua Portuguesa, Linguísta, tradutor, escritor e professor da Universidade de Brasília).
Besteirol midiático:
http://marcosbagno.com.br/
Carta para a revista Veja:
http://marcosbagno.com.br/
Nada na língua é por acaso:
http://marcosbagno.com.br/