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quarta-feira, 28 de julho de 2021

Dois poemas geniais de Camões

Ao Desconcerto do Mundo
 
Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
 
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim,
Anda o Mundo concertado.


Vocabulário:
desconcerto = desordem.



Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
 
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.


Vocabulário:
afora = além de.
mor = maior.
soía = pretérito imperfeito do verbo soer [soer = como de costume].


Luís Vaz de Camões  (século XVI)


Estátua na Praça Camões em Lisboa - Portugal.


domingo, 29 de março de 2020

Em tempos de pandemia (poema)

Em tempos de pandemia


E as pessoas ficaram em casa
E leram livros e ouviram
E descansaram e se exercitaram
E fizeram arte e jogaram jogos
E aprenderam novas maneiras de ser
E foi assim.

E ouviram mais profundamente.
Alguns meditaram,
Alguns oraram,
Alguns dançaram,
Alguns conheceram suas sombras.
E as pessoas começaram a pensar de forma diferente.

E as pessoas se curaram.

E na ausência de pessoas que viviam de maneiras ignorantes,
Perigosas, irracionalmente e sem coração,
A Terra começou a se curar.

E quando o perigo passou
E as pessoas se encontraram novamente,
Lamentaram suas perdas
E fizeram novas escolhas
E sonharam com novas imagens
E criaram novos modos de vida
E curaram a Terra completamente,
Assim como elas tinham se curado.

Catherine M. O’Meara, publicado em 16 de março de 2020.
Adaptação em verso e tradução: Renan.



Versão original (em prosa poética):

In the Time of Pandemic
PUBLISHED ON March 16, 2020

And the people stayed home.
And they read books, and listened, and rested, and exercised, and made art, and played games, and learned new ways of being, and were still.

And they listened more deeply. Some meditated, some prayed, some danced. Some met their shadows. And the people began to think differently.

And the people healed.

And, in the absence of people living in ignorant, dangerous, mindless, and heartless ways, the earth began to heal.

And when the danger passed, and the people joined together again, they grieved their losses, and made new choices, and dreamed new images, and created new ways to live and heal the earth fully, as they had been healed.


© Copyright of all visual and written materials on The Daily Round belongs solely to Catherine M. O’Meara, 2011-Present.


Sem poluição, cisnes e peixes voltam aos canais de Veneza.















Sem turistas, tartarugas  retornam em massa para fazer seus ninhos (Índia).





Durante "quarentena", manada de elefantes descansa em plantação de chá na China.























Nasa registra drástica queda da poluição em cidades que seguem o isolamento social.

domingo, 14 de abril de 2019

Ode to Frøya

Freyja,

Am I good enough
To Fólkvangr?
Please, godness of the braves,
Satisfy my hunger
Of kneeling before Thy Grace!

Valkyrian Lady,
Am I good enough
To touch the land of spotless
Kneeling before Thy necklace?

Please,
Majesty of the dead,
Let me be in Fólkvangr
Where the brave men quietly slumber.



segunda-feira, 7 de maio de 2018

The cosmopolitan


NOW HERE I sit down and write
I’m a NOWHERE citizen
I don’t KNOW WHERE I belong.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Quadrilha (by Drummond) in english

Poetry analysis

The Brazilian poet Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) usually wrote his poems without rhymes and fixed forms. So, everyone can understand, does not need to be a speaker of the Portuguese language. I’d like to comment a Drummond’s poem.

See the beautiful structure of the poem bellow (translated by me). It talks about the mismatch between lovers:

Quadrilha
John loved Teresa that loved Raimundo
that loved Maria that loved Joaquim that loved Lili
that loved no one.

John went to the United States, Teresa to the convent,
Raimundo died of disaster, Maria remained alone,
Joaquim committed suicide and Lili married J. Pinto Fernandes
that had not entered into the story.


Understanding the mecanicism/determinism:
Now, read the poem again from the last verse to the top, making the construction of the relationships between lovers. You're going to understand the mechanic determinism at the poem:

Lili married J. Pinto Fernandes, consequently, Joaquim (who loved Lili) became desolated and committed suicide.
Maria (who loved Joaquim) remained alone, because Joaquim comited suicide and Raimundo (who loved Maria) died of disaster.
Teresa (who loved Raimundo) was desolated because Raimundo died of disaster, so she went to the convent.
John (who loved Teresa) stayed without Teresa because she went to the convent, so he went to the USA.

Other details about the names at the poem:
1- Everyone in this poem shows their first names, except Lili and J. Pinto Fernandes. Why?

2- The poem says "Lili loved no one". So why did she married? She was the only one!

Possible answer:
J. Pinto Fernandes is the only person who has family name at the poem. Furthermore, he hides his first name. Why? It give us a clue that J. Pinto Fernandes is a powerful man, a influent person, with a powerful family name. When the poet says "J. Pinto Fernandes that had not entered into the story" he indicated that Lili married Mr. Fernandes just because he is rich (social climbing, interest).

Everyone at this poem has real names (John, Teresa, Raimundo, Maria, Joaquim), but Lili is a codename (or nickname). Lili is not a real name (it's like Bill for William) so she hide her identity (in other words, Lili does not have courage to face life, to face people, so she married for social interest).

Or maybe "Lili" can be "Lillith", the rebel, the first woman on Earth, the symbol of fatal woman (see the Legend of Lillith on Kabbalah for more details).


Observation about the title of the poem:
The title of this poem refers to a popular dance in Brazil, which consists in a constant change of partners (remember that the poem talk about mismatch between lovers).

P. S: About the dance "Quadrilha", the changing of partners is not in a sexual sense. It is just a constant movement of the dance, there's no body contact, basically just hands in hands. But Drummond uses "Quadrilha" as a methafor.


Renan, 
April, 8, 2008.


Quadrilha = Brazilian typical dance

domingo, 22 de novembro de 2015

Poesia, música e musa

Os poetas antigos cantavam seus versos de cor. A expressão "saber de cor" significa "saber de coração" (cor = coração em latim). Em inglês "saber de cor" se diz "know by heart" (= saber de coração).

As rimas, ritmo e métrica são algumas técnicas que facilitam a memorização dos versos. E assim, cantando, tanto as notícias quanto as tradições eram transmitidas por gerações.

Durante muitos séculos a poesia era feita para ser cantada (gênero Lírico).  Ainda hoje é assim, mas agora chamamos isso de “letra de música”, ou em inglês “Lyrics”.

Poesia e música sempre estiveram ligadas desde os primórdios. Alguns dos estilos poéticos mais consagrados desde a Antiguidade são: hino, ode (canto, em grego), elegia, cantiga, canção, madrigal, rondó, balada, redondilha, soneto (sonzinho, em italiano).

Etimologicamente, a palavra "música" se origina de "musa". 

As musas representavam a personificação das Artes, a quem os poetas pediam inspiração, enquanto que as ninfas representavam a personificação de elementos naturais. 



INVOCAÇÃO DAS MUSAS - Trechos selecionados das quatro grandes epopeias ocidentais:

Canta, ó Musa, a ira de Aquiles, filho de Peleu, que incontáveis males trouxe às hostes dos aqueus. (HOMERO, ILÍADA)

Ó divina poesia, mantenha viva para mim esta canção do homem [...] Faça com que essa história viva para nós [...] Conta-me, Musa, a história do homem, que, depois de destruir a sacra cidade de Troia, andou peregrinando larguíssimo tempo. (HOMERO, ODISSEIA)

Conta-me, musa, as causas (VIRGÍLIO, ENEIDA)

E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mim um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloquo e corrente [...]
Dai-me uma fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou flauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa, [...]
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.
(CAMÕES, OS LUSÍADAS)

Obs: Tágides é como Camões nomeia as Musas do rio Tejo (ou ninfas do Tejo, por também personificarem um elemento da natureza: o rio).

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Poesia em prosa

Folhas de outono me dão calafrios. Isso porque não consigo associá-las a outra coisa senão a momentos. Lembranças. Passado perdido, jogado ao vento. Momentos vividos, outrora tão vivos, agora distantes, tomados de um fogo tão frio. Eu me lembro dos momentos verdes e do sol que os aquecia, o calor reconfortante, a brisa que percorria a pele e a sensação de vida que esconde um futuro inevitável. Mas, quem se lembra de folhas secas, quando se tem momentos verdes? O tempo é ardiloso, sorrateiro, mas não mente. A culpa é da alma, que escolhe ignorar a mudança no clima e o esfriar do vento. A culpa é das cores que os sinais trazem, folhas de cores, cores de fogo. E quando finalmente os olhos se abrem, já é tarde. Não que as folhas não queiram ficar, mas é chegada a hora e elas sabem, desistem de lutar e se vão. Cores leves, livres, soltas, guiadas pelo vento, folhas de momentos. Folhas de outono me dão calafrios, então fecho os olhos e revivo, na minha alma e nos sonhos, cada momento verde que vivi, antes de chegar o frio.

Elaine Delpupo¹
(Boston-MA)

















¹ A autora é graduada em Letras Português-Inglês.