segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Poesia em prosa

Folhas de outono me dão calafrios. Isso porque não consigo associá-las a outra coisa senão a momentos. Lembranças. Passado perdido, jogado ao vento. Momentos vividos, outrora tão vivos, agora distantes, tomados de um fogo tão frio. Eu me lembro dos momentos verdes e do sol que os aquecia, o calor reconfortante, a brisa que percorria a pele e a sensação de vida que esconde um futuro inevitável. Mas, quem se lembra de folhas secas, quando se tem momentos verdes? O tempo é ardiloso, sorrateiro, mas não mente. A culpa é da alma, que escolhe ignorar a mudança no clima e o esfriar do vento. A culpa é das cores que os sinais trazem, folhas de cores, cores de fogo. E quando finalmente os olhos se abrem, já é tarde. Não que as folhas não queiram ficar, mas é chegada a hora e elas sabem, desistem de lutar e se vão. Cores leves, livres, soltas, guiadas pelo vento, folhas de momentos. Folhas de outono me dão calafrios, então fecho os olhos e revivo, na minha alma e nos sonhos, cada momento verde que vivi, antes de chegar o frio.

Elaine Delpupo¹
(Boston-MA)

















¹ A autora é graduada em Letras Português-Inglês.

2 comentários:

  1. Poesia em prosa enviada por Elaine Delpupo, ex-aluna, recentemente graduada em Letras Português-Inglês pela Multivix-Serra, turma que colou grau em 2015/1.

    A outrora poetisa de redondilhas e odes bem humoradas ressurge aqui com um estilo novo nesta peça recém criada. Os leitores mais experientes vão perceber que ela trabalha o grande tema da efemeridade (ou dialética da natureza), tão recorrente na história da poesia. E com que elegância trabalha!

    O paradoxo criado na expressão “fogo tão frio” é auto-explicativo no contexto da sua composição. E no final, ao resgatar a frase “Folhas de outono me dão calafrios”, ela conclui seu texto de forma cíclica, como as Estações do Ano, deixando vivos seus “momentos verdes” em contraste à proximidade do frio. Nota: A autora hoje vive e trabalha legalmente nos EUA, de onde envia seu texto, escrito no início do Outono do Hemisfério Norte.

    Para economizar elogios e análises desnecessárias, pois a poesia fala por si só, devo dizer apenas que qualquer poeta no mundo, vivo ou morto, que trabalhou essa temática em sua poesia, teria orgulho de ter escrito essas linhas.

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  2. Tinha que ser sua ex-aluna né Renan!!

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