quinta-feira, 5 de maio de 2011

Quatro feridas no narcisismo da humanidade



Do livro de Marilena Chaui, Convite à Filosofia:


Freud escreveu que, no transcorrer da modernidade, os humanos foram feridos três vezes e que as feridas atingiram o nosso narcisismo, isto é, a bela imagem que possuíamos de nós mesmos como seres conscientes racionais e com a qual, durante séculos, estivemos encantados.



Narciso encantado com seu próprio reflexo.
Tela de Caravaggio (1594 - 1596).
 
















A Metamorfose de Narciso
Salvador Dalí (1904 - 1989)
 
















Que feridas foram essas?

A primeira foi a que nos infligiu Copérnico, ao provar que a Terra não estava no centro do Universo e que os homens não eram o centro do mundo.

O heliocentrismo enfrentou resistência da Igreja no passado.


A segunda foi causada por Darwin, ao provar que os homens descendem de um primata, que são apenas um elo na evolução das espécies e não seres especiais, criados por Deus para dominar a Natureza.

Representação da evolução (segundo teoria de Darwin).


A terceira foi causada pelo próprio Freud com a psicanálise, ao mostrar que a consciência é a menor parte e a mais fraca de nossa vida psíquica.

O inconsciente aqui representando como um iceberg.




Às três feridas narcisísticas mencionadas por Freud, devemos acrescentar mais uma: a que nos foi infligida por Marx com a noção de ideologia (i.e. o imaginário social sendo determinado pelas condições de vida e trabalho).

Pirâmide que representa o sistema capitalista
 
Do Manifesto do Partido Comunista, redigido e publicado em 1848:

Pela exploração do mercado mundial, a burguesia imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países (...). Em lugar do antigo isolamento de regiões e nações que se bastavam a si próprias, desenvolve-se um intercâmbio universal, uma universal interdependência das nações. E isto se refere tanto à produção material quanto à produção intelectual.
 (...)
A burguesia só pode existir com a condição de revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por conseguinte, as relações de produção e, com isso, todas as relações sociais (...). Essa subversão contínua da produção, esse abalo constante de todo o sistema social, essa agitação permanente e essa falta de segurança distinguem a época burguesa de todas as precedentes. Dissolvem-se todas as relações sociais antigas e cristalizadas... as relações que as substituem tornam-se antiquadas antes mesmo de ossificarem-se. Tudo que era sólido e estável se esfuma, tudo o que era sagrado se torna profanado (...).



O que chamamos hoje de "globalização" já era previsto por Marx no séc. XIX.



Bibliografia:

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000.

MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Editora Escala, 2009. Trad. Antônio Carlos Braga.

Recomendação de leitura adicional:
Propaganda: Ideologia e Manipulação (de Nélson Jahr Garcia).
Livro já publicado também com o título O que é Propaganda Ideológica?
Disponível na internet gratuitamente no endereço:
http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/manipulacao.html

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