Biografia
Nasci em tempos remotos,
Quando o homem tinha tempo de ser completo
E prolixo.
Embriaguei-me no sangue de nosso segundo Dionísio,
Aquele que foi viver em nossos arbustos e arvoredos,
Entre jabuticabeiras e pitangueiras
Da outrora ilha mítica Hy Brazil,
Agora “ilha” continental,
Minha terra natal de onde nunca saí.
Fui o último da tribo a evocar os poderes luxuriosos de Pã
(Io, Pã! Io, Pã!)
Antes que ele morresse.
Devorei a carne de meus ascendentes e irmãos antropófagos
Até roer seus ossos,
Para, além de absorver a valentia daqueles últimos guerreiros,
Puni-los, principalmente, por renegar nossos velhos costumes.
Depois me misturei às mazelas brancas,
Romanas, Lusitanas,
Protocristãos,
Pagãos de toda a parte
Degredados ao Novo Mundo, minha velha terra,
Abandonados à Sorte para morrer.
Entre eles eu era o Mestiço.
Na modernidade, meu tempo encarcerado
(Não quero falar sobre isso)
Hoje minha alma cumpre pena no meu corpo,
O costume outrora fiel à natureza
É doravante tardio.
Epicurismo e hedonismo 69’
Saber viver
E gozar
Xamanicamente
Os desejos do corpo,
Dionisicamente dividindo,
Roubando essências,
Orgasmos;
Gastando a força vital
Até não poder mais
Se manter acordado.
E morrer jovem!
Rogar e roer da vida
O que de mais prazeroso houver,
Consciente, mas...
Kilometricamente desmedido.
Pânico
Io Pã, Io Pã! – canta o homem pastoril temente, com medo,
paralisado na obscura floresta de seus pensamentos.
Hermético! tal qual a alquimia dos anciãos!
Sua Pedra floresce
pelo desejo,
Petrificado diante de sua lasciva musa que lhe ordena:
- Decifra-me, mortal!
Iulio Ypiranga
Da nova série neste blog: Sociedade dos Poetas Anônimos. Poetas que não divulgam seus nomes. Pseudônimos e heterônimos. Textos descobertos por acaso.