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quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

O significado de Pã

 O mito do deus Pã

Era um deus com desejos insaciáveis e também com aparência amedrontadora. Perseguia as ninfas e era cultuado por pastores que, ao mesmo tempo, o temiam.


Para Freud

Id = desejos primários [instintivos],

Superego = moral internalizada [que reprime os desejos],

Ego [O eu psíquico] = tenta equilibrar a dicotomia entre Id e Superego.


Ou ainda:

Pulsão de vida = sexual, mantenedora, construtiva...

Pulsão de morte = destrutiva.

Essas pulsões são opostas e complementares entre si.

Ex: para se alimentar e continuar vivo, você destrói ou mata algo.


Outra interpretação [ou complementar à primeira]

Pã = desejo e pânico [medo inexplicável]:

Todo medo é, em essência, medo da morte.

Mas apesar do medo da morte, 

O ser humano deseja demais aquilo que o assusta, às vezes deseja sentir medo. Então também temos:

Desejo por aquilo que nos dá medo [e todo medo é, em essência, medo da morte],

Assim, temos:

Desejo pela morte [neste caso, não significa acabar com a vida, mas se libertar de algo].

A morte simboliza um recomeço, um retorno a algo primordial ou essencial.


Os exemplos disso na literatura, nas letras de canções etc são muito recorrentes! Muitas usam a metáfora de um trem ou carruagem que nos leva de volta à casa, podendo significar um retorno à infância ou à pátria-mãe ou à morada de Deus.

Os gêneros musicais "negro spiritual", "gospel" e "blues" são mestres nisso, e passaram para o rock essa tradição. A libertação da escravidão era cantada pelos negros em forma de prece. Funcionava em dois níveis: num primeiro, retornar à pátria-mãe [África], num segundo, retornar à morada de Deus [a liberdade para um escravo só viria, infelizmente, com a morte].

Outras canções posteriormente substituíram a palavra "casa" por "Califórnia", idealizando um lugar ensolarado [iluminado] e paradisíaco.

Obs: Estou com preguiça de citar textos. Se você não entende as referências acima, você não tem bagagem cultural para compreender esta postagem.

Historicamente, vários povos enterravam seus mortos em posição fetal [i.e: retorno ao útero, de onde vieram todos eles]. Vale aqui retomar Freud e os antigos gregos [Sófocles]: o complexo de Édipo está intrinsecamente ligado a esta prática histórica.


Conclusão

Pã, simbolizando desejos primários [instintivos] e medos incontroláveis [pânico] também carrega intrinsecamente a contradição entre desejar o que mais nos amedronta, ou seja, desejar a morte. Mas não a morte que anula a vida, e sim uma fuga dos problemas da vida, ou a fuga da dor existencial, ou a volta a algo primordial [a infância, por exemplo] ou uma re-ligação a algo transcendental.

Pã, como deus pastoril, também está relacionado à fertilidade [vida] e masculinidade [homens que trabalhavam na lavoura]. Por isso, vale lembrar deuses como Min dos egípcios e Priapo na mitologia dos gregos e romanos. Ambos muito presentes na arte desses povos.

Tanto a masculinidade como a feminilidade eram cultuadas no paganismo antigo. Os deuses tinha sexo e isso era bem visto nessas culturas. A boa colheita e o perfeito funcionamento das estações do ano dependiam desses deuses e deusas.


ADENDO: a mitologia hindu 

Para eles, o universo é cíclico. Há uma trindade de deuses: Brahma [deus construtor], Vishnu [deus mantenedor] e Shiva [deus destruidor-modificador-renovador]. Podemos associar estas divindades ao Id, Superego e Ego. Ou ainda, associá-las à pulsão de vida, pulsão de morte e o equilíbrio entre as duas pulsões.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Astronomia e Literatura

A Literatura sempre fez referências aos astros, estrelas, constelações etc; desde a oralidade, os mitos, as lendas, as sagas aos escritos épicos, das narrativas de viagem às narrativas de navegação, também nos romances, contos e na poesia.

Já pensou em como seria mais culturalmente enriquecedor entender todas essas referências de uma forma prática? Isso é possível e muito divertido! Siga estes passos.


Os 5 passos para se iniciar na observação astronômica amadora

PASSO 1- Observar o céu noturno a olho nu e aprender a se localizar [saber onde é leste, oeste, norte e sul]. Para isso, pode usar uma bússola ou outros meios. Eu localizo o leste pelo lugar em que o sol nasce. Pesquise, leia, estude o assunto. Conheça os corpos celestes que são visíveis a olho nu.

PASSO 2- Baixe algum aplicativo de observação. Alguns que eu conheço são: 

Sky View; 

Star Walk;

Stellarium.

Com visual bem atraente, esses apps mostram o céu em tempo real e fornecem os nomes dos astros, das constelações e muitas outras informações, apenas apontando o celular para o céu. O ideal é que o celular tenha um sensor de bússola para que o app ache a sua localização precisa. Mas alguns podem funcionar bem sem esse recurso. E além desses três, existem diversos outros apps para essa função. Encontre um que se enquadra naquilo que você busca.

Também o site Solar System Scope tem sido de grande ajuda para mim. Ele mostra uma animação do sistema solar em tempo real, também podendo avançar para o futuro. Isso permite eu entender como os planetas se movem e saber a que hora da noite [ou da madrugada] determinado planeta estará visível. Outra vantagem é que não precisa nem baixar, basta acessar a página.

PASSO 3- Faça parte de uma comunidade de astronomia amadora, presencialmente ou virtualmente. Há vários grupos em redes sociais sobre esse assunto. Cadastre-se, siga, participe! E peça dicas aos membros mais experientes.

PASSO 4- Compre binóculos. No imaginário popular a astronomia depende exclusivamente de telescópios potentes e caros, mas isso é um engano. Para iniciantes e até para os mais experientes os binóculos são indispensáveis. Esse instrumento possui um campo de visão mais abrangente do que o telescópio, o que facilita muito a localização de objetos no céu. Além disso, é imensamente mais fácil de manusear e portar.

O que você pode ver com bons binóculos? Satélites, a Estação Espacial Internacional, a lua, planetas, cometas, asteroides, chuva de asteroides, estrelas, constelações, nebulosas e galáxias.


Lua, com binóculo 15X70


Lua, com binóculos 25x100.


Júpiter e três de suas luas visíveis.


Saturno e seu anel, com binóculo 20x80 + zoom da câmera.


A qualidade de cada foto acima depende não só do modelo de binóculo, mas também de um tripé para estabilizar o binóculo; além, é claro, das condições de observação [época do ano, horário, clima] e da qualidade da câmera fotográfica. Então, essas fotografias dão apenas uma noção de como é; podendo ser igual, mais nítido ou menos nítido do que isso, a depender de vários fatores. Com um binóculo 10x50 de boa marca já é possível observar ótimas imagens. Pesquise muito antes de comprar o seu binóculo. Existe bastante informação útil na internet para ler antes de comprar. E alguns vídeos também ajudam nessa escolha.

PASSO 5- Compre um telescópio. Esse passo é restrito para os amadores de longa experiência. Eu ainda não cheguei nessa fase, apenas acabei de me iniciar no passo 3. E se eu nunca comprar um telescópio, já me sentirei realizado se ficar um craque na observação com binóculos.


"Astronomia e Literatura" é uma proposta interdisciplinar que faço para incentivar a leitura dos clássicos da literatura, aprendendo na prática da observação astronômica amadora os significados das referências astronômicas e mitológicas encontradas em textos como epopeias, narrativas em prosa, poemas líricos etc. 

Incluem-se, nessas leituras, partes das biografias de filósofos e cientistas como Tales, Pitágoras, Galileu Galilei, Isaac Newton, Copérnico, Kepler, entre outros, focando em como eles fizeram suas descobertas científicas mais célebres. 

Este convite, a partir da observação astronômica, desperta a curiosidade para as leituras, reunindo os conceitos  indissociáveis de teoria-prática/prática-teoria, fazendo da aprendizagem uma experiência mais prazerosa e memorável para o resto da vida.

Os 5 passos enumerados acima mostram que essa proposta pode ser realizada com um considerável investimento financeiro [passo 5], ou com um moderado investimento [passo 4], ou quase nenhum investimento [passos 1, 2 e 3] - bastando apenas ter acesso à internet.

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

O que é Teoria Literária?

Escreverei de maneira simples e resumida para responder a essa questão. Teoria Literária é uma disciplina do curso de Letras que estuda as várias formas de se abordar, compreender e interpretar um texto.

Para isso, a disciplina de Teoria Literária traz várias escolas teóricas em diversos campos de conhecimento: Filosofia, História [biografia], Linguística, Psicologia, Psicanálise, Sociologia, Antropologia etc; e claro, as próprias teorias do texto, da comunicação, da arte e da literatura.


Antes de continuar, acho importante diferenciar os conceitos: "compreender" e "interpretar".

Compreender um texto é entender o seu significado original, ou seja, a intenção do autor.

Interpretar um texto é perceber as possibilidades que o texto permite, sem cometer o erro da superinterpretação.

Superinterpretação é um conceito de Umberto Eco. Em resumo, é o mesmo que colocar chifres em cabeça de cavalo. Ou seja, ver além do que realmente existe. Isso é um erro tão desastroso, que chega a ser melhor não ler um texto do que ver nele coisas que não existem. 


ALGUMAS CORRENTES TEÓRICAS

Biografismo - estuda o histórico de vida do autor e suas influências literárias. A partir daí, tenta dar significado exato às intenções do autor em um texto.

Psicanálise - Utiliza o método de Sigmund Freud [e de Lacan] para analisar as personagens. Obs: Usar a Psicanálise para analisar um autor a partir de seu texto literário pode ser um erro grotesco. O autor [pessoa que escreve] se difere de seu narrador em uma narrativa e de seu eu lírico em um poema.

Psicologia Analítica - Utiliza o método de Carl Gustav Jung. 

Escola de Frankfurt [Teoria Crítica] - Utiliza a dialética.

Estruturalismo - Opõe-se ao historicismo. Divide-se em diversos campos: 

- Linguística;

- Estilística;

- Antropologia [do mito];

- Psicologia;

 - Semiologia.

Semiótica - O estudo de todos os signos linguísticos, verbais e não verbais.

Formalismo Russo [Teoria do Texto Literário] - Método que rompe com as abordagens psicológicas e histórico-culturais [extrínsecas à literatura]. Busca características que distinguem a linguagem literária das demais.

New Criticism [Teoria do Texto Literário] - Introduz a separação entre texto e autor, excluindo o biografismo por completo. Analisa o texto pelo próprio texto, sem qualquer outra fonte. Preza pela ambiguidade da obra literária.


Obviamente, não há como resumir cada teoria aqui, pois cada uma delas demanda muitas páginas para serem minimamente explicadas. Então, elas ficam como dica de leitura para vocês. Aprofundem-se em cada uma delas e aprendam a usar essas teorias nas suas análises de textos e críticas literárias.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Mito, lenda e fábula

Diferenças entre os três gêneros

MITO
Personagens: deuses, semideuses, heróis e criaturas fantásticas.
Ensinamentos: implícitos, das questões humanas mais profundas.
Exemplo: Hércules.

LENDA
Personagens: humanos.
Ensinamentos: implícitos e explícitos.
Exemplo: Rei Arthur

FÁBULA
Personagens: animais falantes.
Ensinamentos: moral explícita, indicada para crianças e adolescentes.
Exemplos: A formiga e a cigarra; A tartaruga e a lebre.


Os MITOS e FÁBULAS são sempre fantásticos, maravilhosos, sobrenaturais, metafóricos e simbólicos.

As LENDAS são mais verossímeis, com apenas um ou alguns aspectos fantásticos ou maravilhosos de valor simbólico.

Romances - podem ser verossímeis ou fantásticos.

Contos - podem ser verossímeis ou fantásticos.

Crônicas - sempre verossímeis. Narram o cotidiano.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Semiótica, Teoria Literária e arquétipos

Semiótica, Teoria Literária e arquétipos: ferramentas para a compreensão do texto.


A Semiótica (às vezes referida também como Semiologia) é a ciência que estuda todos os signos linguísticos: verbais, visuais, auditivos e múltiplos. Neste campo, alguns estudiosos de destaque são:

Charles Peirce (EUA) – filósofo, cientista, matemático e químico.
Roland Barthes (França) – filósofo e crítico literário;
Umberto Eco (Itália) – escritor, autor de “O nome da rosa” e crítico literário.

Alguns conceitos importantes da Semiótica:

Ícone - é uma representação que se assemelha ao objeto representado. Exemplo: uma fotografia se assemelha à pessoa retratada.

Índice - é uma representação que se relaciona ao objeto representado. Exemplo: uma pegada humana lembra-nos um ser humano (mas a pegada não se assemelha a ele).

Símbolo - é uma representação arbitrária feita em dado espaço-tempo. Possui um caráter cultural. Exemplos: uma letra para representar um fonema ou uma logomarca para representar uma empresa.


Metáforas e símbolos

A metáfora é a mãe de muita outras figuras de linguagem, também referidas como figuras de estilo ou de retórica ou de expressão.

Tanto a metáfora quanto o símbolo consistem em substituir uma coisa pela outra. A metáfora substitui uma palavra por outra, o símbolo substitui um conceito por uma imagem, por exemplo. Algumas vezes, metáforas e símbolos produzem o mesmo efeito, por isso a linguagem figurada por vezes é definida como uma linguagem simbólica.

Todos os textos (orais, escritos, visuais etc) são recheados de metáforas e símbolos. Não apenas os textos definidos hoje como literários (poemas, peças teatrais, narrativas ficcionais etc), mas qualquer forma de texto (conversas, diálogos, cartas, epístolas, notícia jornalística, propaganda, manifesto etc).


A alegoria

Uma palavra que define um conceito filosófico (abstrato) pode ser substituída por uma palavra imagética (visual) ou uma figura (concreta). Este é o caso da alegoria. 

Há infinitos exemplos de simbolização no dia a dia:

O dinheiro substitui a riqueza por um pedaço de papel ou metal;

A logomarca substitui/representa uma empresa ou produto;

A parábola substitui um enunciado moral por uma narrativa;

O exemplo substitui uma explicação geral (conceituação) por um caso particular.



A operação da linguagem

A linguagem (oral e escrita) pode ser compreendida tanto como uma operação alegórica quanto como uma operação simbólica. Ambas podem ocorrer simultaneamente ou serem didaticamente separadas:

Operação alegórica (do abstrato ao concreto) – o ato de substituir um pensamento ou sentimento (internos em um sujeito) por uma palavra que possa ser expressa a toda uma comunidade. Ou seja, o ato de transformar nossas percepções sensoriais (mundo psíquico) em palavras que as definam.

Operação simbólica (do concreto ao abstrato) – o ato de dar nome a objetos (do mundo exterior) rotulando-os com palavras é uma operação de abstração (simbolização do mundo exterior).

Estas operações possibilitam a existência da linguagem e definem o que muitos filósofos chamam de consciência.


Concretismo e poesia visual

O Concretismo e a Poesia Visual são conceitos literários do século XX e consistem em operar do abstrato ao concreto, ou seja, tomar a palavra (antes entendida como símbolo arbitrário) e aproximá-la do conceito de ícone, fazendo-a se assemelhar à imagem que ela representa.

Exemplo:
 O significante se assemelhando ao significado



                      


Metáfora, alegoria, símbolo e cultura

Da mesma forma que um sujeito para compreender a língua portuguesa deve estar inserido nessa cultura linguística, também para compreender um símbolo ele deve se inserir naquela cultura simbólica. A seguir alguns exemplos.

Na mitologia grega, o trabalho se Sísifo é uma alegoria que reflete a inutilidade de certas tarefas, convocando o homem a refletir sobre o seu trabalho. No mito, Sísifo passa a vida empurrando uma pedra morro acima, mas ela sempre rola abaixo quando atinge o topo.

Nas culturas orientais, a flor de lótus simboliza pureza espiritual, pois é uma flor que nasce em meio ao lodo.

As máscaras do teatro grego e da commedia dell’ arte italiana representavam estereótipos sociais, ou seja, tipos comuns de personalidade, facilmente reconhecíveis pelo público. No teatro moderno, porém, a máscara física foi substituída pela “máscara psicológica”.



Há que se destacar o trabalho do psicólogo Carl Gustav Jung na interpretação de fábulas, mitos e símbolos, bem como pelo conceito de "arquétipo" para entender as tais "máscaras psicológicas".

Alguns arquétipos conhecidos popularmente

Para C. G. Jung, os arquétipos são ideias primordiais no inconsciente coletivo. Essas ideias não possuem forma definida, mas são materializadas ou personificadas (alegoricamente) em símbolos visuais, narrativas, personagens etc. A simbolização ocorre de forma diferente em cada cultura, mas a ideia primordial (a essência) permanece a mesma já que essas ideias fazem parte de um inconsciente coletivo, logo, comum a toda a humanidade.

inúmeros arquétipos que representam a natureza humana. Como somos seres complexos, assumimos várias personalidades, cada uma em um contexto distinto. A seguir alguns exemplos que julgo recorrentes e importantes nos textos.

O pai castrador – é a qualidade controladora da nossa personalidade. É personificado em diversas culturas na figura de um pai ou um deus punitivo. Um exemplo é Odin na mitologia nórdica.

A mãe – é a qualidade amorosa da personalidade. Está ligada à fertilidade e nutrição. É personificada por Proserpina, deusa romana da fertilidade (Perséfone dos gregos); Gaia, a mãe-terra na mitologia grega; Ísis, na mitologia egípcia, Inanna, na mitologia suméria etc.

O pai amoroso – é a qualidade feminina no ser masculino, ou seja, o lado afetivo e criativo no homem, menos receoso de expor as emoções publicamente. Este é o traço de personalidade que Jung chamaria de anima. É personificado em diversas culturas na figura de um homem ou um deus, sempre bondoso, sensível e dado ao perdão. Pode ser pintado (representado iconicamente) como um homem de traços femininos.

A madrasta – é a qualidade masculina no ser feminino, ou seja, o lado violento, competitivo e vingativo na mulher. Este é o traço de personalidade que Jung chamaria de animus. É personificado por Hera (a vingativa esposa de Zeus) e as diversas madrastas dos contos infantis.

O velho sábio – diz respeito ao nosso conhecimento, ao nosso hábito de aconselhar e orientar. É personificado na figura de um mágico, mago, mestre, profeta, professor, guru etc. O mago Merlin é um exemplo, assim como Gandalf (em Senhor dos Anéis) e Dumbledore (em Harry Potter).

O velho conservador – é o lado conservador de nossa personalidade. Julga o presente de acordo com paradigmas passados. É mantenedor de tradições. Um exemplo seria o Velho do Restelo na obra “Os Lusíadas” de Camões.

O jovem rebelde – é o nosso lado revolucionário, inconformado, contestador que exige mudanças. Um exemplo é Bob da Família Dinossauro (seriado de TV).

O mensageiro – trata da nossa característica de levarmos recados que nem sempre são aguardados ou bem recebidos. Exemplos são: Hermes (na Grécia), Mercúrio (em Roma), Loki (na Escandinávia), Exu (orixá africano), Pombero (guarani).

O herói – ele é o nosso lado aventureiro. Na literatura ele é personificado em várias figuras que protagonizam as narrativas. Aquiles é um exemplo.

O rei prometido – é a nossa esperança de mudança de uma situação que não podemos mudar sozinhos. Um exemplo é o rei Arthur.

O duplo (ou alter ego)– é o lado obscuro da nossa personalidade, isto é, aquelas características que rejeitamos em nós mesmos por não conseguirmos conviver com elas. Nas narrativas aparece como o gêmeo mau, ou o irmão mau, sendo antagonistas do gêmeo bom ou do irmão bom. Exemplos podem ser vistos no conto “William Wilson” de Edgar Allan Poe e no famoso “Dr. Jekill and Mr. Hide” (R. L. Stevenson) que inspirou o Hulk dos quadrinhos.

O macho-alfa – é a vontade masculina de dominar ou se destacar em uma comunidade, indo muito além de apenas ser aceito. Um exemplo é o personagem Don Juan.

A fêmea-fatal – é a vontade feminina de se destacar em seu grupo social, indo muito além de apenas ser aceita. Exemplos são dos mais variados, desde Lilith até a mulher-gato das histórias em quadrinhos.

O andrógino ou hermafrodita – é uma identidade indefinida, esta assume características atribuídas aos dois sexos, porém causando estranhamento aos outros. Pode ser representada por um morcego (mamífero alado).

Édipo/ Electra – é o nosso sentimento ambíguo em relação aos nossos próprios progenitores; de um lado amor e admiração, de outro, ressentimento e rancor.


Também há inúmeros arquétipos que representam sentimentos e situações recorrentes na vida humana.

A terra prometida/o lar perdido – vontade de retorno à infância, nostalgia de nos sentirmos acolhidos como éramos na infância. Na música temos vários exemplos, desde o gospel “Swing low, sweet chariot, Coming for to carry me home” até "Mama, I'm Coming Home" de Ozzy Osbourne.

A vida – simbolizada como uma estrada ou um rio. Na música há vários exemplos: “Born To Be Wild”, “Highway Star”, “Infinita Highway” etc. Nos três exemplos citados, o eu poético tenta fazer da vida uma aventura, uma busca pela almejada liberdade.

A morte – simbolizada por um barco, um trem etc. Diversos são os exemplos de metáforas desse tipo: o mito de Caronte, o barqueiro do Hades; “O auto da barca do inferno”, peça de Gil Vicente; a música “Trem das sete” de Raul Seixas etc.

A palavra dura – aquele ensinamento que é importante para o crescimento espiritual de um indivíduo ou de uma comunidade, porém, inicialmente traz discórdia e não é imediatamente aceito. Pode ser simbolizada por uma espada.

A efemeridade (ou dialética da natureza)  – é a consciência de que tudo é fugaz, efêmero, passageiro. Uma fruta apodrecendo ou um dente-de-leão podem ser imagens representativas desse conceito.


Os animais também ocupam papéis simbólicos.

Memória – elefante. É personificado por Ganexa, deus da sabedoria no hinduísmo.
Fartura/potência sexual – o bode. Exemplos são Pã, os faunos e os sátiros.
Pureza/fartura – a vaca.
Fidelidade – o cão.
Astúcia/magia/curiosidade – o gato.
Poder/liberdade/visão – a águia.
Trabalho degradante – o burro.
Reprodução/multiplicação – coelho/preá.
Sociedade/comunidade – formigas/abelhas.
Sabedoria/mistério – coruja.


Para ler mais sobre o assunto, deixo links de outras postagens:

Narratologia (e a jornada do herói):


Alter egos:


A função do mito:

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Lista de deidades que personificam as Artes

Segundo a tradição, as musas habitavam o Monte Parnaso, na Grécia. Algumas estavam especialmente relacionadas à poesia. Citarei todas as nove a seguir.

Euterpe – musa que representa a música e a poesia elegíaca (símbolo: flauta dupla);
Calíope – musa da eloquência e do poema épico (símbolo: tabuleta para escrita);
Erato – musa que representa a poesia de amor (símbolo: uma pequena lira);
Polímnia – musa dos hinos, a música cerimonial e sacra, e da narração;
Clio – musa da história, simbolizada pela clepsidra (relógio d’água);
Terpsícore – musa da dança, portava uma lira;
Melpômene – musa da tragédia (teatro);
Tália – musa da comédia (teatro);
Urânia – musa da astronomia.

 
Euterpe, Calíope e Erato


Na mitologia nórdica, as deidades relacionadas à poesia são:
Saga – deidade identificada com a poesia e as histórias (sagas).
Iduna – deusa da poesia e protetora da eternidade, a esposa de Bragi.
Bragi – filho de Odin, Bragi era o deus da sabedoria e da poesia, protetor dos bardos e dos trovadores.

Iduna e Bragi


Outros deuses:

Thot (Egito) – antigo deus da escrita, da sabedoria, da música, dos truques de magia;

Hermes (Grécia) – mensageiro dos deuses, protetor dos oradores, comércio e pastores;

Mercúrio (Roma) – deus do comércio, frequentemente associado ao Hermes grego;

Hermes Trismegisto (sincretismo entre Thot e Hermes) – relacionado à alquimia.

Thot e Hermes


Observação: 
Hermes (Grécia), Mercúrio (Roma), Loki (Escandinávia), Exu (orixá africano), Pombero (guarani) às vezes possuem papéis semelhantes, cada um em seu respectivo panteão.


Outros mensageiros:
Papsukkal (Acádia/ Mesopotâmia);
Ninshubur (sumério);
Arcanjo Gabriel (hebreu).

Outros relacionados ao comércio, caminhos, viajantes:
Xaman Ek (maia);
Yacatecuhtli (asteca);
Dosojin (xintoísmo/Japão).


Outras divindades relacionadas à arte e sabedoria:

Hator (Egito) – personifica a música e a dança;
Meret (Egito) – a música, o canto, a alegria;
Ptah (Egito) – a arquitetura e o artesanato;
Lono (Havaí) – a música.

Sarasvati (divindade védico-hindu) deusa da sabedoria, linguagem, eloquência e artes. Protetora dos músicos, escritores, atores, pintores e artesãos.

Ganexa (divindade hindu) – representa a sabedoria, é destruidor de obstáculos.

Sarasvati e Ganexa


Por fim, um objeto, a flor-de-lis, símbolo da graduação de Letras: