terça-feira, 23 de janeiro de 2024

O significado de Pã

 O mito do deus Pã

Era um deus com desejos insaciáveis e também com aparência amedrontadora. Perseguia as ninfas e era cultuado por pastores que, ao mesmo tempo, o temiam.


Para Freud

Id = desejos primários [instintivos],

Superego = moral internalizada [que reprime os desejos],

Ego [O eu psíquico] = tenta equilibrar a dicotomia entre Id e Superego.


Ou ainda:

Pulsão de vida = sexual, mantenedora, construtiva...

Pulsão de morte = destrutiva.

Essas pulsões são opostas e complementares entre si.

Ex: para se alimentar e continuar vivo, você destrói ou mata algo.


Outra interpretação [ou complementar à primeira]

Pã = desejo e pânico [medo inexplicável]:

Todo medo é, em essência, medo da morte.

Mas apesar do medo da morte, 

O ser humano deseja demais aquilo que o assusta, às vezes deseja sentir medo. Então também temos:

Desejo por aquilo que nos dá medo [e todo medo é, em essência, medo da morte],

Assim, temos:

Desejo pela morte [neste caso, não significa acabar com a vida, mas se libertar de algo].

A morte simboliza um recomeço, um retorno a algo primordial ou essencial.


Os exemplos disso na literatura, nas letras de canções etc são muito recorrentes! Muitas usam a metáfora de um trem ou carruagem que nos leva de volta à casa, podendo significar um retorno à infância ou à pátria-mãe ou à morada de Deus.

Os gêneros musicais "negro spiritual", "gospel" e "blues" são mestres nisso, e passaram para o rock essa tradição. A libertação da escravidão era cantada pelos negros em forma de prece. Funcionava em dois níveis: num primeiro, retornar à pátria-mãe [África], num segundo, retornar à morada de Deus [a liberdade para um escravo só viria, infelizmente, com a morte].

Outras canções posteriormente substituíram a palavra "casa" por "Califórnia", idealizando um lugar ensolarado [iluminado] e paradisíaco.

Obs: Estou com preguiça de citar textos. Se você não entende as referências acima, você não tem bagagem cultural para compreender esta postagem.

Historicamente, vários povos enterravam seus mortos em posição fetal [i.e: retorno ao útero, de onde vieram todos eles]. Vale aqui retomar Freud e os antigos gregos [Sófocles]: o complexo de Édipo está intrinsecamente ligado a esta prática histórica.


Conclusão

Pã, simbolizando desejos primários [instintivos] e medos incontroláveis [pânico] também carrega intrinsecamente a contradição entre desejar o que mais nos amedronta, ou seja, desejar a morte. Mas não a morte que anula a vida, e sim uma fuga dos problemas da vida, ou a fuga da dor existencial, ou a volta a algo primordial [a infância, por exemplo] ou uma re-ligação a algo transcendental.

Pã, como deus pastoril, também está relacionado à fertilidade [vida] e masculinidade [homens que trabalhavam na lavoura]. Por isso, vale lembrar deuses como Min dos egípcios e Priapo na mitologia dos gregos e romanos. Ambos muito presentes na arte desses povos.

Tanto a masculinidade como a feminilidade eram cultuadas no paganismo antigo. Os deuses tinha sexo e isso era bem visto nessas culturas. A boa colheita e o perfeito funcionamento das estações do ano dependiam desses deuses e deusas.


ADENDO: a mitologia hindu 

Para eles, o universo é cíclico. Há uma trindade de deuses: Brahma [deus construtor], Vishnu [deus mantenedor] e Shiva [deus destruidor-modificador-renovador]. Podemos associar estas divindades ao Id, Superego e Ego. Ou ainda, associá-las à pulsão de vida, pulsão de morte e o equilíbrio entre as duas pulsões.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Os senhores de Roma: Augusto

 

Faro Editorial, 351 páginas.


Esta postagem não será uma análise profunda, nem uma resenha, mas apenas uma boa indicação de leitura.

O romance histórico é um gênero literário que, quando bem feito, nos transporta a uma outra época, como se estivéssemos realmente vivendo aquele passado, testemunhando de perto os bastidores de eventos históricos. Esse é o maior barato desse gênero literário. E esse é o caso da narrativa aqui recomendada.

O enredo tem início nos famosos idos de março, ou seja, o assassinato de Júlio César. 

Otávio, seu herdeiro, se tornaria o primeiro imperador romano, passando a se chamar Augusto. Nestas páginas de suas memórias ficcionais acompanharemos a sua trajetória e os principais eventos desse período da história de Roma.

Essa narrativa em primeira pessoa mostra um Otávio sagaz e manipulador que, com ajuda de Mecenas e Agripa [e o poeta Virgílio] vai mordiscando bocados cada vez maiores do poder. 

Do triunvirato ao conflito inevitável com Marco Antônio e Cleópatra, ele vai ascendendo como imperador ao mesmo tempo que os cidadãos e o senado são levados a vê-lo como defensor da república romana.

Na segunda parte de suas "memórias" o imperador, bem mais velho, analisa sua trajetória.

Os poetas Virgílio e Horácio são mencionados em alguns momentos da narrativa.

Muito do que é narrado nesse livro realmente aconteceu daquele jeito. Outras coisas não sabemos, mas podem ter acontecido, não ter acontecido, ou acontecido de forma semelhante ao que a ficção propõe. Esse é o outro barato do romance histórico.


Outro romance histórico muito bem feito é:

"A pedra da luz: Nefer, o silencioso" de Christian Jacq

Já o recomendei várias vezes aqui no blog:

https://interludico.blogspot.com/2019/12/dica-de-leitura-nefer-o-silencioso.html