sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Abordagens Humanas

Abordagens que explicam o ser humano internamente (seus desejos e angústias):
- As artes;
- As psicologias;
- A psicanálise.

Abordagens que explicam o ser humano externamente (relações comunitárias e políticas):
- A filosofia;
- As ciências sociais (sociologia e antropologia);
- A história.



As abordagens externas, para serem mais bem sucedidas, devem passar antes pelas abordagens internas. Isto porque o ser humano não é apenas "fruto do meio", mas o resultado dialético (síntese) entre o interior e o exterior.

Para entender as motivações humanas e a obra de um indivíduo ou de uma sociedade, deve-se antes analisar a subjetividade exteriorizada no meio. Essa subjetividade humana é o motor que impulsiona a chamada "contextualização histórica" da qual todos somos cúmplices e vítimas.



quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Breve análise do soneto “A pá”



Para não perder o costume, fiz uma breve análise sobre um soneto de minha autoria. Segue o poema:

A pá


Não, a palavra não é metafórica
Quando é forte para plantar os ossos
E colher o perdão dos entes nossos
Numa elegia muda e pictórica.

A palavra num enterro é concreta:
A pá lavra o pó antes do epitáfio
E a sua própria função leva a fio
Para deixar a tarefa completa.

Apaga a triste mágoa já passada.
A pá – gastrite da terra – já cega,
Surda, só, junto ao defunto ela encerra:

A lágrima da remissão negada
Ou a silenciosa dor que teve em vida –
Ao som seco e sacro de pá – rompida.


Renan, abril de 2013.
Publicado em:
http://interludico.blogspot.com.br/2013/04/soneto-sobre-o-perdao-dado-apos-morte.html


Breve análise

Decassílabo com rimas no esquema: ABBA, CDDC, EFF, EGG.
As rimas FF são imperfeitas.

Há aliteração do S para reproduzir o som da pá cavando um túmulo, 
algo como: s, s, s..

Ficou assim:
A pá – gastrite da terra – já cega,
Surda, só, junto ao defunto ela encerra (...)
(...) a silenciosa dor que teve em vida –
Ao som seco e sacro de pá – rompida.


Há paranomásia em:

A palavra num velório é concreta:
A pá lavra o pó antes do epitáfio

Apaga a triste mágoa já passada.
A págastrite da terra – já cega,


Outras semelhanças fonéticas na 3ª estrofe:

terra/encerra (rima interna)
junto ao defunto (rima interna)

Semântica:
A primeira estrofe lança uma tese que será defendida nas duas estrofes seguintes. A última estrofe apresenta uma conclusão.

Há metáfora em “elegia muda e pictórica” (1ª estrofe) = [O triste silêncio na hora do enterro].

Há uma figura de oposição entre “metafórica” (1ª estrofe) e “concreta” (2ª estrofe).

Há metáfora em “A pá [no ato de cavar]” = “gastrite da terra” (3ª estrofe).

Há prosopopeia em “A pá já cega, surda, só” (3ª estrofe)

Há figura de inversão (hipérbato) entre a 3ª e 4ª estrofe. Na ordem direta seria: “a pá encerra [termina com]: a lágrima da remissão negada ou a silenciosa dor que o defunto teve em vida”.

Há hipérbato na 4ª estrofe. Na ordem direta seria assim: “silenciosa dor rompida ao som de pá”