quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Narratologia

Semelhança acidental entre narrativas:

Em a Morfologia do conto de fadas Vladimir Propp verificou que os contos de fadas possuem uma forma monotípica, desde a função das personagens até a construção do conto.  

O antropólogo estruturalista Claude Lévi-Strauss redefiniu o trabalho de Propp dizendo que o formalista russo não teria descoberto a morfologia, mas sim a estrutura do conto fantástico. 

A teoria do monomito (a jornada do herói ou ciclo do herói) do mitologista Joseph Campbell mostra que há estágios que se repetem nos mitos de heróis. Podemos inferir, como o nome sugere, que houvesse um mito primordial do qual surgiram todos os outros mitos.  

Os trabalhos de Propp e Campbell fortalecem o conceito de inconsciente coletivo do psicólogo Carl Gustav Jung. Segundo esse conceito, haveria uma reserva de memórias inconscientes compartilhadas por toda a humanidade, daí a semelhança acidental entre as narrativas mitológicas. Jung também estudou os contos infantis e neles verificou a existência de arquétipos do inconsciente coletivo. 

Na Linguística, o conceito de polifonia de Mikhail Bakhtin parte da premissa da ideologia, portanto, a influência de um texto sobre outros não seria algo realizado conscientemente pelos autores, mas sim pelo fato de estes estarem inseridos num contexto ideológico que os influencia. 

O filósofo Friedrich Nietzsche elaborou um conceito (inacabado) conhecido como eterno retorno segundo o qual a vida é limitada por um número restrito de acontecimentos e sensações. Podemos concluir que se isso ocorre no mundo não-diegético, também ocorrerá no diegético, uma vez que este se inspira naquele. 



Semelhança proposital entre narrativas:

O memorando de Vogler, redigido pelo roteirista Christopher Vogler com base nos estudos de Campbell, padronizou a redação de roteiros nos estúdios Disney, criando uma fórmula para narrativas de sucesso. Ou seja, no caso dos filmes da Disney, a semelhança entre as narrativas ficcionais não é mera coincidência.                

 Intertextualidade – Consideraremos como intertextualidade toda vez que um texto faz referência intencional a outro texto, isto é, quando o autor de uma obra mais recente faz, propositalmente, uma alusão a uma obra anterior. A paráfrase, a paródia e a citação são alguns exemplos de intertextualidade.



O monomito de Campbell (inspiração para o memorando de Vogler)

domingo, 1 de dezembro de 2013

Tabu versus pensamento livre



Tabu versus mártires ou condicionamento versus transgressão: uma breve análise sobre o pensamento livre.


Sigmund Freud em sua obra Totem e Tabu fez uma importante contribuição à antropologia e à psicologia social. O tabu é um dos códigos morais mais antigos que regem a sociedade, portanto, essa obra é leitura recomendada para quem procura entender a relação entre padrões de comportamento e a organização social. Outra importante obra de Freud no campo social é Psicologia das Massas e a Análise do Eu. De acordo com o pai da psicanálise, a transgressão de um tabu conduz o transgressor à sua expulsão do grupo ou a uma punição imposta pelo grupo do qual o transgressor faz parte. Entre as sociedades primitivas, acreditava-se que deste modo evitar-se-ia que uma maldição recaísse sobre todo o grupo. Esse princípio pode ser observado em todos os grandes primatas que se organizam em bando e constituem hierarquias, como gorilas, chimpanzés, babuínos e os seres humanos. A punição ou expulsão do indivíduo transgressor é o primórdio do moderno Direito Penal.

Tanto Freud quanto o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss demonstram que a organização social em torno de uma Lei teve início em sociedades primitivas a partir da proibição do incesto. Desde então outros tabus surgiram e evoluíram em sua complexidade. Resta saber quanto de nosso instinto primata permanece a nos determinar e se há possibilidade de termos um pensamento livre e original apesar de todo o condicionamento biológico e psíquico que sofremos.

Na Grécia Antiga, o filósofo Sócrates foi condenado à morte, acusado de corromper a juventude ateniense e ser ímpio perante os deuses. Sócrates não escreveu nada, tudo o que sabemos sobre ele vem dos textos escritos por seus discípulos. Nem mesmo há provas de que ele realmente tenha existido. Ainda assim, sua história é um dentre muitos exemplos da punição que recai sobre aquele que transgride um tabu. Mas que tabu Sócrates transgrediu?

Ao questionar todo conhecimento vigente em sua época, Sócrates atraiu a atenção dos jovens e colocou em discussão a autoridade de seus interlocutores, atraindo a ira destes para si. Entre os gorilas, quando o macho-alfa tem sua autoridade questionada, ele expulsa ou mata o seu rival. Analogamente, os acusadores de Sócrates eram homens que tinham muito a perder com aquele filósofo ensinando os jovens a pensar por eles mesmos e a questionar o saber dos mais velhos. Logo, Sócrates foi julgado, preso e executado. Ele não transgrediu necessariamente um tabu moral, mas ensinava seus discípulos a pensar por si só, o que leva, com o tempo, ao questionamento de certas Leis, princípios morais, tabus e dogmas.

Em todas as manifestações artísticas ao longo da história há exemplos de incompreensão, censura e perseguição, tanto para o artista que rompeu paradigmas formais quanto para aquele que, em sua arte, ousou questionar um tabu. O exemplo de Sócrates talvez sirva para entender a história de vários outros mártires, como Gandhi. Considerando todo o condicionamento que historicamente sofremos, talvez não seja exagero dizer que o pensamento livre é uma anomalia da espécie, um desajuste mental que leva um indivíduo a ser criativo e destacar-se da massa. Em pouco tempo esse indivíduo passa a ser visto como subversivo. Seu instinto de autopreservação não funciona como na maioria. Ele desafia a si mesmo e arrisca sua segurança em nome de um ideal que afirma ser maior que ele mesmo. Sócrates dizia ouvir uma voz interior, Gandhi seguia princípios religiosos, outros se tornaram mártires ao defenderem com a vida uma ideologia política. Logo, o pensamento livre é possível, mas, às vezes, cobra um preço muito alto daquele que ousa pensar.


Sócrates entre seus discípulos como no livro Fédon.

Resumo aos estudantes: política, economia e sociedade



1- Formas de governo

Clã: A família é o núcleo de toda e qualquer sociedade. Na tradição, a família é formada por um pai, uma mãe e seus descendentes naturais. Várias famílias reunidas, convivendo juntas, formam um clã.

Tribo: A tribo é formada por vários clãs que juntos fazem suas leis, justiça e se auto-governam. As pessoas dividem as tarefas e em algumas tribos os bens também são comunitários. Elas têm em comum a língua e as crenças religiosas, mas não formam um Estado com poder central. Podem ter um chefe tribal, mas as decisões são tomadas em conjunto com toda a tribo.

Monarquia: As monarquias têm reis, príncipes ou imperadores como os donos do poder e este poder é hereditário. A fonte do poder dos reis é baseada no "direito divino". Na monarquia parlamentarista o rei não detém o poder político, este fica a cargo do Primeiro Ministro. O rei então se torna apenas um símbolo do Estado.

República: Sistema que se opõe à monarquia. Na república não existe monarca, mas existe um Estado com poder centralizado. O poder “emana do povo”. A república pode ser presidencialista (com presidente eleito diretamente pelo povo) ou parlamentarista (com um Primeiro Ministro eleito pelo parlamento que representa o povo).


2- Práticas políticas

Autocracia: Uma pessoa sozinha governa as massas, dita as leis e as muda conforme a sua vontade.

Oligarquia: Um grupo restrito de pessoas governa as massas, dita as leis e as muda conforme a vontade daquele mesmo grupo que detém o poder.

Essas duas práticas (ditatoriais) podem se apresentar com:

a) Autoritarismo: É uma ditadura exercida por uma pessoa (autocracia) ou um grupo (oligarquia). Não conta com o apoio das massas.

b) Totalitarismo: É uma ditadura (autocrática ou oligárquica) na qual há uma ideologia ou um objetivo maior por trás de todo o poder. Geralmente conta com o apoio das massas, sugerindo uma união entre os indivíduos em prol de todos.

Democracia: Os cidadãos fazem as leis, a justiça e governam por eles próprios (democracia direta) ou por meio de seus representantes eleitos (democracia representativa). O ideal de democracia é opor-se à ditadura, mas a democracia também pode ser entendida como “ditadura da maioria” ou “ditadura constitucional” (ditadura das Leis).


3- Ideologias

Ideologias de Direita: São aquelas que tentam manter a ordem social vigente, isto é, manter os privilégios de uma elite (portanto, são ideologias conservadoras). Pregam o liberalismo econômico (livre concorrência) e acreditam na “méritocracia”.

Ideologias de Esquerda: São aquelas que tentam extinguir as diferenças entre classes sociais (portanto, são revolucionárias). Reivindicam a justiça social fundamentada em princípios como a igualdade.


Fascismo/Nazismo: Foram autocracias (ditaduras) totalitárias (com apoio das massas) e nacionalistas. No plano político, se opuseram tanto à monarquia quanto à democracia. No plano econômico, se opuseram tanto ao capitalismo quanto ao comunismo. São consideradas como ideologias de extrema-direita.


4- Sistemas econômicos

a) Relações entre Estados

Mercantilismo: Uma metrópole controla toda a economia de uma ou mais colônias. As colônias não possuem autonomia econômica nem política.

 Imperialismo: As colônias possuem alguma autônima política (uma pequena parcela de poder delegada a um representante regional), porém subordinada a um outro Estado. No plano econômico as colônias não possuem nenhuma autonomia.

O Mercantilismo e o Imperialismo são os “embriões” do capitalismo moderno e do “liberalismo econômico”.


b) Relações entre pessoas (classes sociais)

Feudalismo: O senhor feudal é proprietário de uma terra (meio de produção) onde os servos (sem terra) trabalham para ele. A produção econômica é para a subsistência, o senhor feudal ganha a maior parte enquanto a menor parte é dividida entre os trabalhadores. Não há possibilidade nenhuma de mobilidade social. Se baseia no “direito divino”.

Capitalismo: sistema econômico que se baseia no liberalismo econômico, o qual prega a livre competição entre trabalhadores, o livre comércio de mercadorias sem interferência do Estado e principalmente a propriedade privada. O capitalismo pode ser democrático ou ditatorial. Em qualquer caso, o capitalismo é marcado pela concentração de renda, formando uma “pirâmide social”. A sociedade consequentemente é dividida em classes (da mais rica às mais pobres) e é caracterizada pela contradição entre burguesia (donos dos meios de produção) e proletariado (trabalhadores sem posses). Segue uma lógica semelhante ao Feudalismo, porém, no capitalismo há alguma (pequena) mobilidade social e a relação produção-consumo é estimulada. O capitalismo não se baseia no “direito divino”, mas num direito adquirido, acreditando na “méritocracia”.

Socialismo: É chamado também de “ditadura do proletariado”. Opõe-se à desigualdade social gerada no capitalismo, opondo-se principalmente ao liberalismo econômico e à propriedade privada (de terras e indústrias). O socialismo é um movimento revolucionário (prega a mudança radical) do sistema político-econômico. É uma forma de totalitarismo. A contradição não é mais entre burguesia e proletariado, mas entre Estado e povo. A propriedade passa a ser do Estado e as pessoas trabalham para o Estado.

Comunismo: Seria a última etapa do Socialismo na qual o Estado não mais existiria e as pessoas trabalhariam em cooperativas. É uma tentativa radical de eliminar as contradições políticas e desigualdades sociais de outros sistemas.

Anarquia: Ausência de Estado (ausência de poder centralizado). É o auto-governo do povo (sem representantes). Também é chamado de “socialismo libertário”, contudo, acredita em atingir o comunismo sem passar pela etapa do socialismo.

Social-Democracia: Seria um Estado que combina um capitalismo democrático com políticas sociais típicas do socialismo (educação e saúde para todos independentemente de classe social). Não é revolucionário, mas reformista, isto é, tenta diminuir os impactos negativos do capitalismo sem extingui-lo.


5- Alguns teóricos e obras

Platão – Sintetiza suas ideias gerais na obra “A República”.

Dante Alighieri – Apresenta suas ideias políticas na obra “Da Monarquia”.

Maquiavel – Teoriza sobre o poder na obra “O Príncipe”.

Thomas Hobbes – É um teórico do contrato social. Sua principal obra é “O Leviatã”.

Montesquieu – Sistematizou a divisão dos poderes: executivo, legislativo e judiciário. Uma de suas obras mais importantes é “O Espírito das Leis”.

Adam Smith – Defendeu o liberalismo econômico na obra “A riqueza das Nações”.

Karl Marx – É um teórico do socialismo científico. Fez críticas ao capitalismo em “O Capital” e “O Manifesto do Partido Comunista” e em muitas outras de suas obras.

Bakunin – Foi um anarquista teórico. É uma referência para pensadores atuais como o linguísta Noam Chomsky.

Proudhon – Foi um anarquista teórico. Fez críticas à propriedade privada.