Tenho observado os jornais,
telejornais e programas de TV fazendo campanha implícita (propaganda
ideológica) pela redução da maioridade penal. Como de costume, a mídia se
apega a um tema menor e explora-o de maneira irresponsável. Antes de discutir
essa proposta, ela deveria discutir as causas que levam tantos jovens ao crime.
Sei que a violência não se
justifica, mas ela pode ser explicada. Eu vejo como as suas principais causas:
1- saúde e condições de vida precárias;
2- falta de oportunidades reais (o que leva à falta de
perspectivas);
3- educação prioritariamente mercadológica, voltada para um
mercado de trabalho competitivo e excludente;
4- cultura consumista que coisifica o homem e fetichiza
os bens de consumo (cultura esta que é alimentada pela própria mídia).
Depois, a mídia não discute as
consequências dessa proposta. Tendo em vista o atual sistema carcerário
brasileiro (e a nossa Excelentíssima Justiça brasileira), prender um
adolescente graduado no crime equivale a oferecer-lhe a bolsa de pós-graduação
do crime. Esta ele cumprirá (na prática) em 5 anos (ou menos), depois disso,
estará de volta às ruas, não integrado à sociedade, mas exercitando nas ruas
táticas que aprendeu e aperfeiçoou na cadeia.
O comportamento humano é
influenciado pelo meio. Quando moradia, alimentação, saúde e lazer são
privilégios (e não direitos), o instinto de autopreservação faz a vida se
tornar uma luta (violenta) pela sobrevivência. Qualquer um (até você) vivendo em condições precárias é
um criminoso em
potencial. Logo, se você realmente se
preocupa com a violência, deveria antes se preocupar em como promover justiça
social.
Não espere que os políticos façam
isso por nós. A prioridade da política (e da polícia) não é zelar pelo bem
coletivo, mas pelo bem privado. Nesse sistema de valores invertidos, a Justiça
cumpre seu papel torpe criando novos
presos políticos, isto é, vítimas da política brasileira. São eles os
historicamente excluídos, pessoas cujas vidas foram banalizadas pelo sistema.
Por isso, também não defendo a pena capital, eles seriam suas únicas vítimas.
Sou a favor da redução da maioridade penal, mas antes, sou a favor de uma sociedade que não precise chegar a
tal extremismo. De que adianta tratar das consequências se não tratarmos também
das causas? Se nossa sociedade educa as crianças para se transformarem em
criminosos, esta sociedade está doente (a apatia e intolerância da sociedade
atual já denotam uma sociopatia coletiva). Nessa conjuntura, com cadeias
superlotadas e criminosos sendo fabricados a cada dia, a redução da maioridade
penal seria inútil, isto é, não funcionaria nem como um paliativo. Prefiro
antes defender ações preventivas e, paralelo a isso, um sistema que recupere
(resgate) aqueles que se perderam no caminho. Isso se faz criando uma sociedade
igualitária e inclusiva, promovendo uma Educação comprometida a ensinar a
empatia e o altruísmo como as maiores virtudes humanas (sem essas virtudes, não
há nem como se falar em respeito à individualidade).
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