Disse Jean-Jacques Rosseau: "O homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe".
Isso dito no contexto a que Rousseau se referia, talvez pareça mais verdadeiro. Mas num contexto geral, seria mais razoável afirmar: o homem nasce sem consciência de bondade e maldade, mas pode ser cruel por sua própria natureza instintiva. Cabe à sociedade aparar-lhe as arestas.
Bondade e maldade não são conceitos relativos. Por exemplo, uma criança na tenra idade que atira pedras em passarinhos pode não ter a consciência do que é ser bom ou mal, mas a prática que ela realiza é má em si própria, pois fere outra vida.
Cabe à sociedade [família, escola, igreja, governo e mídia] o papel de educar esse ser, tornando-o sociável.
A essa educação, dá-se o nome de moral, que pode ser entendida a grosso modo como sendo regras sociais de boa conduta.
Mas há outro autor que tem algo a acrescentar nesta discussão:
(Augusto dos Anjos)
Rosseau fala num contexto Pré-Romântico, interpretando os índios como "bons selvagens", em detrimento da sociedade francesa da época, corrompida.
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de sua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Rosseau fala num contexto Pré-Romântico, interpretando os índios como "bons selvagens", em detrimento da sociedade francesa da época, corrompida.
Augusto dos Anjos fala de seu lugar peculiar na literatura, mantendo a hipótese de que o homem se corrompe a partir do meio social, mas também trazendo isso para o seu ponto de vista pessoal, como quem dissesse algo do tipo: não aceite a piedade dos homens, pois estes são traiçoeiros.
Mas considerando um contexto geral e, portanto, rejeitando a hipótese de ambos, daria para afirmar que o homem tem uma natureza cruel e que a sociedade o tornaria sociável e ético. Mas isso depende do papel que esta sociedade deseja assumir para si: se ela é responsável e cumpre o papel de educar a todos ou se ela desiste da difícil tarefa.
Contudo, se o ser humano é cruel por sua natureza e a sociedade é o conjunto de seres humanos, é possível existir uma sociedade bondosa?
Contradizendo essa lógica, penso que sim. E aí introduzo o conceito de "fazer esforços diários", como no aprendizado diário de uma língua estrangeira. Uma sociedade que faz seus esforços em ser boa, contrariando sua natureza humana e cruel, poderia chegar a ser boa, ou pelo menos, esta seria a definição de uma sociedade utópica: um conjunto de indivíduos que diariamente se esforça em praticar apenas o bem, pensando no bem coletivo e não só no seu próprio bem-estar individual, consciente de que isso faria bem a todos, inclusive ao próprio indivíduo, como no conceito de karma, que olhando assim não tem nada de místico ou metafísico, é pura lógica e física.