Em 1901, no interior da Rússia
havia um pequeno circo, tão pequeno que não tinha nome. Tinha anões, um homem
forte, mímicos malabaristas, equilibristas e um tocador de trompete, mas não tinha nome. A
atração principal era um mágico ilusionista, talvez o melhor de sua época.
Num palco escuro, cheio de
suspense e surpresas, esse mágico materializava qualquer animal ou objeto no ar.
E com igual facilidade ele fazia essas coisas levitarem diante de um
respeitável público. Certa vez ele fez um elefante desaparecer do picadeiro, como
se tivesse evaporado tão rápido quanto um piscar de olhos. A plateia batia
palmas tão alto e tão forte que dava a impressão de o som dos aplausos poderem chegar
à capital.
Mas tanta comoção também trouxe
ventos de inveja. Seu camarim era muito visado, porque lá estavam guardados
todos os objetos de mágica. Por isso ele não podia se afastar muito. Lá ele
comia, dormia, aparava a barba e o bigode. Toda a sua vida estava ali. Obviamente
nunca recebia visitas no interior do camarim. Era de lá para o picadeiro e do
picadeiro de volta para lá. O problema era como fazer para proteger seus
segredos de mágico enquanto ele estava no centro do picadeiro entretendo e
encantando as pessoas.
De tanta preocupação, um dia ele
teve um estalo e Zap! Inventou um método para espantar curiosos e espiões que
tentavam descobrir seus segredos e vender para outros mágicos.
Numa noite de espetáculo três meninos aguardavam o mágico entrar no picadeiro. Após dois números eles saíram da
lona como se fosse para comprar pipoca ou ir ao banheiro, mas o que eles
realmente procuravam era o quarto do mágico. E lá fora encontraram entre tendas
um corredor sombrio que dava naquele camarim. Os moleques seguiram pelo
corredor, mas se depararam com uma jaula vazia bem na frente da porta do
camarim. Quando se aproximaram um pouco mais, uma luz se acendeu e eles viram
uma mulher belíssima dentro daquela jaula. Ficaram pasmos por aquela surpresa,
mas também admirados pela beleza da moça. Não deram nem mais um passo, mas os olhos
se moviam na direção dela. E apreciando aquela forma feminina eles pouco a
pouco viram a mulher se transmutar num enorme gorila enfurecido e que rompeu as
grades da jaula. Os três rapazes saíram de lá apavorados, correndo o mais
rápido que podiam e sem olhar para trás.
E foi assim, nos bastidores,
longe do interior da lona circense, que aquele grande mágico fez a sua maior
contribuição para o mundo do ilusionismo.
Após a sua morte, já em idade
avançada, o truque da mulher gorila se espalhou pelo mundo, tornando-se mais
uma atração de parques e circos. Não se sabe muito bem como ou quem revelou o
segredo, mas essas coisas são assim mesmo, ainda que não se entenda o porquê.
Os segredos dos mágicos se esfarelam com o tempo, como pedras que viram pó e
são carregadas pelo vento.
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