Composição: Serge Gainsbourg
A primeira gravação foi feita por Serge Gainsbourg e Brigitte Bardot (1967). Todavia, a versão que ficou conhecida mundialmente foi a segunda gravação: Serge Gainsbourg e Jane Birkin (1969). Ela era a namorada do compositor na época.
A letra traz uma metáfora de cunho sexual, o vai e vem das ondas quebrando numa ilha. Mas não se detém na linguagem figurada. Ela é também explícita, revelando inclusive a posição sexual que o casal pratica na letra, claro como numa fotografia.
Conhecimentos em idiomas nunca são o suficiente para traduzir um texto, ainda mais quando se trata de um texto literário. Nesses casos, conhecimentos em Linguística e Teoria Literária se tornam indispensáveis. As observações que faço após a tradução exemplificam isso e são importantes para entender as escolhas lexicais usadas nesta tradução.
A letra é um diálogo entre homem e mulher, começando por ele. Os travessões [-] indicam as mudanças de locutor.
Letra e tradução
- Je t'aime, je t'aime, oh, oui je t'aime. - Eu te amo, eu te amo, oh sim, eu te amo.
- Moi non plus. - Eu tampouco. [Eu também]*
- Oh, mon amour! - Oh, meu amor!
- Comme la vague - Como a onda
Irrésolue. Irresoluta.
Je vais, je vais et je viens Eu vou, eu vou e venho
Entre tes reins. Entre tuas costas.**
Je vais et je viens Eu vou e eu venho
Entre tes reins Entre tuas costas
Et je me retiens. E eu me contenho.
- Je t'aime, je t'aime, oh, oui je t'aime. - Eu te amo, eu te amo, oh sim, eu te amo.
- Moi non plus. - Eu tampouco. [Eu também]
- Oh mon amour, - Oh, meu amor
Tu es la vague Tu és a onda
Moi l'île nue. E eu, a ilha nua.
Tu vas, tu vas et tu viens Tu vais, tu vais e vens
Entre mes reins. Entre minhas costas.
Tu vas et tu viens Tu vais e vens
Entre mes reins Entre minhas costas
Et je te rejoins. E eu te acompanho.
[Repete primeira estrofe, segunda estrofe e quarta estrofe.]
- Je t'aime, je t'aime, oh, oui je t'aime. - Eu te amo, eu te amo, oh sim, eu te amo.
- Moi non plus. - Eu tampouco. [Eu também].
- Oh mon amour! - O meu amor!
- L'amour physique - O amor físico
Est sans issue. É sem saída.
Je vais, je vais et je viens Eu vou, eu vou e venho
Entre tes reins. Entre tuas costas
Je vais et je viens Eu vou e eu venho
Je me retiens E eu me contenho.
- Non, maintenant viens! - Não, agora vem!
Observações:
* Moi non plus - Ao pé da letra, "Eu não mais". Essa expressão é usada para reforçar uma negativa. Por exemplo, se alguém diz "Eu não gosto de futebol" e um outro responde "Moi non plus" significa concordar com a negativa dizendo "Eu também não".
Porém, a mesma expressão usada após uma afirmativa "Eu gosto de futebol" pode assumir, nesse contexto, o significado de "Eu também". Esse registro não é usual na língua francesa. Ele parece ter surgido, segundo minha pesquisa, de uma fala do pintor espanhol Salvador Dalí.
Quando Salvador Dalí disse: "Pablo Picasso é comunista, moi non plus" talvez ele quisesse dizer "Eu não mais". De fato, Picasso foi membro do partido comunista até a sua morte, enquanto Dalí foi comunista apenas em sua juventude, daí dizer "Eu não [sou] mais". O francês não era a língua nativa de Dalí, então é possível que ele tenha feito um uso equivocado da expressão "Moi non plus". Ou ele tenha usado de sua irreverência surrealista, e com muita consciência, deu uma resposta ambígua.
É possível supor que esse uso incomum da expressão tenha chamado a atenção do compositor. O suposto equívoco gramatical do pintor assumiria um significado inovador e poético na letra desta música.
** reins - Essa palavra, quando no singular, pode ser traduzida como "rim" ou "dorso". Mas na letra, a palavra aparece no plural. Para ser fiel ao sentido original, quis manter o plural na tradução. Isso me deu opções de traduzir "reins" como "rins", "lombos" ou "costas". Aqui entra uma questão de campo semântico. A palavra "rins" está no campo da medicina, o que descarta seu uso aqui. Já "lombos" remete à culinária, o que também descarta seu uso aqui. A palavra "dorso" usada no plural soaria estranha, então "costas" pareceu a escolha mais acertada.