1- Achar que poesia é algo
“bonitinho” feito para confortar, alegrar ou enfeitar.
2- Achar que poesia pode ser
interpretada de qualquer forma, dependendo da vontade ou subjetividade de cada
um.
3- Achar que o conteúdo escrito é
válido para todas as épocas, em especial, a SUA.
4- Achar que aquilo foi escrito
para alguém específico, digamos... VOCÊ.
5- Achar que qualquer pensamento
ou expressão de sentimentos é uma boa poesia.
ENTENDER a poesia é sempre um
desafio. Costumo dizer que quem lê e entende poesia, entende qualquer tipo de
texto (além de ler o mundo de forma mais crítica e consciente).
A seguir, apresento uma
justificativa para cada item numerado acima.
1 - A poesia é uma forma de
reflexão retórica. Embora seja bela, por trazer musicalidade em sua forma; e
cativante, por organizar o conteúdo de forma lógica, ela não tem o objetivo de
agradar, mas apenas de ser uma bela reflexão, isto é, ser a expressão
organizada (artística) de uma subjetividade única (original). Então, nunca
pense em poesia como sendo algo “bonitinho”, mas sendo uma técnica de
argumentação.
2- A poesia tem como objetivo
passar uma mensagem esteticamente organizada. Se essa mensagem pudesse ser
interpretada de qualquer forma, não haveria razão de ela existir. Todo texto tem
uma mensagem que é comunicada ao leitor pelo autor. Embora a poesia tenha
sentido amplo, isto não significa que ela possa ser interpretada ao bel prazer
do leitor. A motivação do autor (formada pelo seu contexto histórico e
psicológico) deve ser levada em consideração para se entender a mensagem de um
texto.
3- Nada é tão universal que possa
ser interpretado fora de seu contexto (exceto para o New Criticism que valoriza a ambiguidade e as múltiplas interpretações).
Cada autor tem uma motivação própria ao escrever. O contexto histórico e
psicológico de cada um é dialeticamente determinante na produção do texto
(contexto histórico e condições materiais de existência + subjetividade do
autor = poesia).
4- É verdade que a poesia une
todas as subjetividades individuais em sentimentos comuns a toda espécie
humana, mas isto não significa que o autor entenda a subjetividade de seus
leitores. Pelo contrário, o leitor deve se esforçar para entender a subjetividade
do autor. Esta tarefa nunca será perfeitamente possível, mas o leitor deve se
esforçar para assim apreender pelo menos o essencial de cada texto. Ler é um
exercício de empatia e isto devemos colocar em prática também em nossas vidas.
5- Se você escreve poesia, não se
iluda pensando que seus leitores o entenderão. A moeda mais válida na poesia é
a estética, então, ao escrever, capriche na organização formal e na
argumentação. Só assim sua produção textual será considerada bela pelos seus
leitores, ainda que seja impossível compreenderem inteiramente a sua
subjetividade. Ao escrever, ouse ir aos lugares incomuns de sua consciência,
mas faça-o de modo textualmente organizado. O bom texto é original em conteúdo,
mas técnico em sua forma.
Em resumo, a leitura requer empatia
e prática do leitor. A escrita exige, além de uma boa vivência de mundo, um
grande conhecimento das ferramentas linguísticas.
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