quinta-feira, 29 de agosto de 2024

O ideal supremo de um guerreiro

No primeiro estágio, homem e espada tornam-se um só. Até uma folha de capim pode ser usada como arma letal. 

No estágio seguinte, a espada repousa não na mão, mas no coração. Mesmo sem a espada o guerreiro pode destruir o inimigo a 100 passos. 

Mas o ideal supremo é quando a espada desaparece totalmente. O guerreiro compreende tudo a sua volta. O desejo de matar não mais existe e somente a paz permanece.


Filme: Herói (2002)




sábado, 24 de agosto de 2024

Antigo Egito

Tawy [em egípcio antigo], Aegypt [na raiz greco-latina], Mirs [em árabe atual]. O nome antigo do Egito [Tawy] significa "duas terras", ou seja, o Alto Egito [ao sul] e o Baixo Egito [ao norte, até o mediterrâneo]. O faraó usava uma coroa dupla simbolizando a unificação das duas terras.

A antiga palavra "Kemet" significa "terra negra" e referia-se à terra fértil nas margens do rio Nilo, em oposição à "Deshret", que significa "terras vermelhas/desérticas".

De todas as civilizações antigas [fenícios, persas, gregos, romanos etc] os egípcios são para mim os mais fascinantes. Obviamente a cultura greco-romana é de longe a mais influente em termos históricos. 

Todavia, as pirâmides do Egito são os monumentos mais impressionantes que qualquer civilização já construiu. 

Além disso, os hieróglifos, desenhos, esculturas, templos, estátuas gigantes e a Grande Esfinge de Gizé são objetos lindíssimos e sem precedentes em todas as culturas ao redor do mundo.



 









O antigo Egito em sua máxima extensão [no período do Império Novo].

Domínio sobre Biblos, Sidom e Tiro [cidades fenícias] e o Reino Cuxe ao sul






















A controvérsia da “raça egípcia”

Aplicar noções atuais de "raça" branca ou negra ao Antigo Egito é anacrônico. A história do Antigo Egito é milenar. Vários povos passaram e habitaram aquela região: assírios, fenícios [hoje sírio-libaneses], palestinos, núbios, hebreus, persas, gregos, romanos, árabes etc.

Porém, em 2017, um estudo genético foi conduzido com amostras de 151 múmias do norte do Egito, que estavam enterradas no Cairo, que constituiu o primeiro dado confiável obtido dos antigos egípcios usando métodos de sequenciamento de DNA de alto rendimento. O estudo mostrou que os antigos egípcios têm grande afinidade com povos modernos do Oriente Médio. Ainda assim, essa amostra representa uma fatia pequena daquela população e a maioria dos acadêmicos rejeita a ideia de que o Antigo Egito era composto de um povo homogêneo. A cor da pele variava por região [Alto Egito, Baixo Egito e Núbia] e em eras diferentes cada um desses povos subiu ao poder.


A gravura do Livro dos Portões, encontrada em túmulos do Novo Reinado, mostra as etnias conhecidas pelos egípcios até então:

Da esquerda para a direita: Líbio, núbio, semita, egípcio.












Linguisticamente, o egípcio antigo é um idioma quase isolado, tendo algumas similaridades com línguas semíticas [Oriente Médio] e línguas berberes [norte da África ocidental].


Raotepe e sua esposa Noferte (Museu do Cairo)
Raotepe era irmão do faraó Quéops, ambos filhos de Seneferu.






O Reino Cuxita (Kush ou Cuxe) localizava-se na Núbia, atual Sudão [ao sul do Egito]. Era muito rico em ouro. Na história do povo cuxita houve períodos de guerra contra o Egito, mas também convivência, e um período de dominação do Egito, que durou pouco mais de 1 século. Este período é conhecido como a era dos faraós negros. 


Periodização [meus destaques pessoais]

Império Antigo (2686 a 2181 a.C.) - capital: Memphis; necrópoles: Saqqara e Giza (Gizé).

Império Médio (2050 a 1710 a.C.) - capital: Tebas

Império Novo - inclui o reinado de Ramsés II; necrópoles: Vale dos Reis e V. das Rainhas

Período Ptolomaico ou Helenismo (332 a 30 a.C.) - capital: Alexandria.

Período Romano: a partir de 30 a.C.

Cristianização do mundo romano: a partir de 337 - destruição da biblioteca de Alexandria. 

Parte do Império Bizantino: a partir de 395

Expansão islâmica [árabes]: 632-661

Egito Otomano [turcos]: 1517-1867


Cronologia de faraós [meus destaques pessoais]

Djoser - construção da primeira pirâmide do Egito [2.648 a.C.], em Sakkara, pelo arquiteto Imotep.

Seneferu - construção da pirâmide curvada e da pirâmide vermelha, em Dashur. Era pai de Quéops.

Quéops [2.589 - 2.566 a.C] - construção da primeira pirâmide de Gizé, seguido por seu filho Quéfren e seu neto Miquerinos.

Faraó Aquenáton e rainha Nefertiti [1.370–1.330 a.C.]

Nefertiti: escultura da época de seu reinado








Tutancâmon e sua rainha Anksenamon [1.341 - 1.323 a.C.] 

Ramsés II, apelidado Ozymandias [1279 - 1213 a.C.] também conhecido como Ramsés, o Grande.

Dinastia núbia [reino Kush] - faraós negros, originários do atual Sudão [770 a 657 a.C.] - durou 113 anos. Curiosidade: O Sudão é o país com mais pirâmides no mundo.

Alexandre, o Grande: fundação de Alexandria em 331 a.C - início da dinastia macedônica, período conhecido como Helenismo - disseminação da cultura grega.

Ptolomeu - Alexandre da Macedônia foi proclamado faraó. Após sua morte, o general macedônio assumiu o trono egípcio. A partir daí, várias gerações de faraós macedônicos reinaram até 30 a.C. - durou exatamente 300 anos.

Cleópatra [falecida em 30 a.C.] - Seu nome era Cleópatra VII Filopátur [tradução: a sétima filha do pai, amada pelo pai].

A última rainha macedônica era poliglota e grande estudiosa de várias disciplinas, por isso talvez fosse a mulher mais culta de sua época. Sua morte marca o início da dominação romana. Antes, foi aliada do grande general de Roma: Caio Júlio César. Após o assassinato deste, ela aliou-se ao militar romano Marco Antônio, numa tentativa infrutífera de proteger seu reino. Mas foram derrotados e o imperador Augusto, sobrinho-neto de César, passou a controlar o Egito.

Ela teve um filho com Júlio César [Ptolomeu Cesarion] e três com Marco Antônio: um casal de gêmeos, Alexandre Hélio [Alexandre Sol] e Cleópatra Selene [Cleópatra Lua]; e o caçula Ptolomeu Filadelfo.


Cleópatra em uma moeda de sua época







Busto de Cleópatra esculpido em Roma
na época em que a rainha visitou a cidade.













Retratos de Fayum: pinturas sobre os caixões de múmias do Egito no período romano
















Observação: A atual polêmica sobre a cor dos egípcios antigos e a cor de pele da rainha Cleópatra [sua etnia e raça] não têm base histórica, mas sim ideológica, baseada em conceitos restritos e arcaicos de "raças" humanas. É um debate pseudocientífico e contraproducente. Não há mistérios neste mundo para a verdadeira Ciência, que já explicou, com riqueza de detalhes factuais, questões muito mais complexas, como a origem do Universo, a origem da vida e sua evolução. No mundo científico não há espaço para falácias e bobagens conspiratórias. As pirâmides e o Serapeum não foram construídos por alienígenas. O povo egípcio antigo era semítico-africano e também misto, com variações na cor de sua pele. O verdadeiro rosto de Cleópatra nunca foi um mistério. E desde Eratóstenes [Cirene 276 a.C - Alexandria 194 a.C.] o formato da Terra redonda já era conhecido.


Vídeo explicando o cálculo da circunferência da Terra, feito por Eratóstenes em Alexandria:




Dica de leitura: A Pedra da Luz - Nefer, o Silencioso [clique no link para ler minha análise do livro]



















Curiosidade para pesquisar:

Máscara mortuária de Tutancâmon





















A máscara cobria o rosto do faraó mumificado, dentro de 3 sarcófagos. A descoberta de seu túmulo foi considerada revolucionária e uma das mais importantes do séc. XX, graças à persistência do arqueólogo Howard Carter (Kensington 1874 - Londres 1939).


Curiosidade para você pesquisar:
Serapeum - Sakkara (ou Saqqara) - 24 túmulos gigantes, colocados num enorme corredor, para os touros sagrados.



Fonte: Wikipédia em português e inglês
[controvérsia racial, língua egípcia antiga, periodização e cronologia]


Sobre a origem dos antigos egípcios, assista ao vídeo a partir do minuto 38:23


Segundo o estudo acima, baseado principalmente em anatomia, genética e linguística, os povos do norte da África, como os berberes, os líbios e os egípcios são descendentes de povos que vieram da Anatólia [atual Turquia] e do Oriente Médio. Estes tinham a pele clara e são os ancestrais dos povos indo-europeus e semíticos.

Já ao sul do Egito, na Núbia, os povos tinham a pele escura, como já foi falado aqui nesta postagem.


Acima, um vídeo sobre a questão étnico-racial no Egito.


terça-feira, 13 de agosto de 2024

Curiosidades sobre Roma e Pompeia

Relato presencial sobre a destruição de Pompeia pelo vulcão


Plínio, o Jovem - político e escritor romano foi testemunha ocular da erupção do Vesúvio, o vulcão que destruiu as cidades de Pompeia e Herculano no ano 79.

Plínio assistiu a tudo de uma cidade bem próxima a Pompeia.

A seguir você está prestes a ler os trechos mais interessantes das cartas de Plínio relatando em detalhes a catástrofe.


"por volta da hora sétima (12h), minha mãe lhe mostra o surgimento de uma nuvem de inusitado aspecto e tamanho"

"Uma nuvem surgia – aos que observavam de longe era incerto saber de qual monte; posteriormente soube-se ter sido o Vesúvio – cuja semelhança e forma reproduzia mais um pinheiro"

"Já caía cinza sobre os barcos, mais quente e mais densa quanto mais se aproximavam; já também pedras-pomes"

"em muitos lugares reluziam as chamas larguíssimas e os fogos altos do monte Vesúvio, cujo fulgor e claridade se intensificavam pela escuridão da noite"

"Ao ar livre, por sua vez, temia-se a queda de pedras-pomes, apesar de leves e porosas; [...] Colocavam-se travesseiros sobre as cabeças, amarrando-os com lenços; esta foi a proteção contra o que caía"

"o prenúncio das chamas, o cheiro de enxofre põe os outros em fuga"

"grande e real era o medo da destruição"

"Então finalmente pareceu-nos oportuno abandonar a cidade"

"víamos que o mar se recolhia em si mesmo e como que se apartava do tremor da terra. Certamente a praia avançara, e retinha muitos animais do mar nas areias secas. Do outro lado, uma nuvem escura e medonha [...] longas formas de chamas eram semelhantes e maiores que relâmpagos"

"Não muito depois, aquela nuvem desceu sobre as terras, cobriu os mares; cercara e escondera a ilha de Capri"

"Então minha mãe ordenou que eu, de algum modo, fugisse para algum lugar; que um jovem poderia, que ela, pesada [...], morreria [...] Eu, por minha vez, não me salvaria se não junto dela; em seguida, tendo tomado-lhe a mão, forço-a a avançar. Ela obedece penosamente e se culpa de me atrasar"

"Olho para trás: uma treva densa ameaçava-nos às nossas costas e nos seguia como se derramando torrentes pela terra. 'Desviemo-nos', disse eu, enquanto vemos, 'para que não sejamos massacrados no caminho pela multidão que nos acompanha na escuridão' "

"Ouvirias os gritos das mulheres, os choros das crianças, os clamores dos homens; pela voz buscavam, pela voz reconheciam uns os pais, outros os filhos, outros os cônjuges; estes lamentavam sua sorte, aqueles a dos seus; havia os que suplicavam a morte por medo da morte"

"Novamente trevas, novamente cinzas, muitas e espessas. A estas, nós as sacudíamos levantando-nos continuamente; de outro modo ficaríamos cobertos e inclusive esmagados pelo peso"

"Finalmente, uma vez atenuada aquela treva, dissipou-se como que em fumaça ou névoa: logo fez-se dia verdadeiro; o sol também brilhou, lívido, contudo, como quando se eclipsa. Aos nossos olhos ainda trepidantes, apresentavam-se todas as coisas transformadas e ocultas por uma espessa cinza como se por neve."


FURLAN, Mauri (tradutor), PLÍNIO: Livro VI, cartas 16 e 20. Universidade Federal de Santa Catarina, 2020.

Texto completo no link:

https://www.researchgate.net/publication/338612321_-_Da_erupcao_do_Vesuvio_-_Epistulae_ad_Tacitum_VI_16_20_Cartas_a_Tacito_VI_16_20



Vítimas reais preservadas em Pompeia. 











Pompeia hoje (Vesúvio ao fundo): sítio arqueológico com visitações.











Curiosidade sobre os gladiadores do Império Romano e o Coliseu:

As lutas entre gladiadores raramente acabavam em morte. Geralmente elas terminavam em submissão.

Fonte: National Geographic, Tesouros Perdidos de Roma, 2ª temporada, episódio 1.


O Coliseu era palco não só de lutas entre gladiadores, mas também caçadas a animais e até batalhas navais.


Cena do filme Gladiador










Curiosidades sobre o filme Gladiador (2000):

O imperador Marcus Aurelius escreveu máximas da filosofia estoica. Sua obra mais famosa é intitulada Meditações.

Commodus, seu filho, realmente lutou na arena do Coliseu. E não foi só uma vez. Ele travou vários duelos e nunca perdeu, o que aponta para favoritismo e lutas combinadas.









Mais fotos e curiosidades sobre Pompeia no link:

https://interludico.blogspot.com/2024/02/pompeia-vulcao.html