Precisando manutenir meu violino, recebi a dica de um velho amigo: levar o instrumento a um experiente luthier.
Esse amigo é um grande professor de música e sei que ele sabe do que fala. Sua argumentação, como conhecedor dos mistérios da antiga arte das musas, é tão técnica quanto didática - própria de alguém que é músico e também professor. Como se precisasse de mais, li uma avaliação do serviço daquele luthier que me fora recomendado. A nota dizia que ele tinha mãos mágicas.
Portanto, certo de que meu instrumento estaria em ótimos cuidados, tratei logo de seguir o conselho do meu velho amigo.
Chegando lá, no atelier havia vários instrumentos em construção e alguns em conserto. Era ao mesmo tempo um berçário de instrumentos musicais e também um hospital de violinos, violões e violoncelos.
O senhor luthier me recebeu muito bem e prontamente tratou de assistir meu violino, a fim de avaliar quais reparos seriam necessários.
Enquanto eu aguardava o seu exame, caminhava admirando o atelier, que era um oásis de madeira e verniz, agradáveis à visão e olfato.
Num canto da parede, palavras atraíram meu olhar. Numa lista dos serviços que eram prestados naquele estabelecimento, um deles dizia assim: Colocação da alma do violino.
Lendo isso, recebi a informação inicialmente com surpresa: Violinos têm alma? Mas não tive qualquer resistência em aceitar isso, pois parecia óbvio supor que um instrumento tão angelical quanto o violino tivesse alma. E se alguém neste mundo era capaz de colocar alma em um violino, esse alguém era aquele artesão de mãos mágicas.
Perguntei àquele homem se meu violino tinha alma. Ele respondeu afirmativamente: "Sim. Mas posso colocá-la melhor! E fora alguns reparos no braço dele, você poderá retirar seu violino em poucos dias."
E assim se fez. Após 6 dias retornei ao luthier, paguei pelo bom serviço e peguei o violino. Saímos de lá, meu violino e eu, ambos de alma renovada.