sexta-feira, 19 de abril de 2013

Soneto sobre o perdão dado após a morte.



A pá


Não, a palavra não é metafórica
Quando é forte para plantar os ossos
E colher o perdão dos entes nossos
Numa elegia muda e pictórica.

A palavra num enterro é concreta:
A pá lavra o pó antes do epitáfio
E a sua própria função leva a fio
Para deixar a tarefa completa.

Apaga a triste mágoa já passada.
A pá – gastrite da terra – já cega,
Surda, só, junto ao defunto ela encerra:

A lágrima da remissão negada
Ou a silenciosa dor que teve em vida –
Ao som seco e sacro de pá – rompida.



Renan, abril de 2013.

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