sábado, 14 de março de 2020

Oi, amigo.


Oi, amigo. Estou ouvindo Gipsy Kings aqui e isso me fez lembrar da nossa infância. Anos incríveis! Não sei por que perdemos contato. Foi porque crescemos e nos tornamos adultos responsáveis, cada um com sua família e contas a pagar? Foram divergências políticas? Não sei. Acho que é o curso natural das coisas. Mas isso não importa, não precisamos entender isso, o importante é o que estou para relatar nas linhas seguintes.

Hoje, após uma década ou mais sem nenhum contato, resolvi escrever para você. Tive uma razão para isso, mas antes quero falar das lembranças.

Nossas melhores lembranças começaram com gritos: "Desce, vamos brincar". Depois passamos à fase de gravar músicas. Você cantava bem, eu tocava violão mais ou menos.

Lembra aquela época de ir à locadora escolher filmes? Passávamos um bom tempo escolhendo os filmes para levar e assistir. Até hoje tenho pesadelos de ir na segunda-feira devolver filmes à locadora. Essa era a parte chata de locar filmes.

Apesar das boas lembranças, aquela não era uma época fácil. Éramos crianças, depois adolescentes, a vida cobrava pouco da gente, mas como estávamos na flor da idade, descobrindo tudo, qualquer cobrança parecia muito. A escola parecia tão difícil naquela época!

Havia coisas muito ruins. Algumas vezes eu sofria com ameaças de apanhar de uma galera de meninos do conjunto. Cresci com medo constante. Todo mundo era agressivo naquele tempo.

Mesmo assim me lembro com saudades. Nas férias, brincando na areia, quando chegava o carrinho de picolé todas as crianças (nós inclusive) gritavam os seus pais para aparecerem na janela e jogarem os trocadinhos.

Fazíamos teatro de brincadeira, esculturas de areia, olimpíadas... Éramos artistas. Às vezes sonho com aquele condomínio. Geralmente, nos sonhos, estou indo à sua casa, aquele apartamento no 3º andar. Lembro-me que lá foi a primeira vez que comi couve chinesa (acelga) e gostei. Depois disso, começaram a cobrar lá em casa que eu comesse mais legumes. Ficaram com ciúmes, porque na sua casa eu comia de tudo, na minha eu era um chato para comer.

Meu amigo, venho lhe comunicar que minha mãe faleceu em 28 de janeiro deste ano, uma Terça-Feira à noite.

Agora ela descansa em paz. Acabou o sofrimento para ela. Eu, no entanto, continuo aqui. Ela sempre gostou de você e de nossa amizade. Aliás, ela gostava de todos meus amigos. Ela sempre se lembrava do nome de todos os meus amigos e perguntava como estavam.

Você é uma parte importante da minha infância e adolescência. Estou ficando velho e, portanto, mais sentimental. Sentindo saudades daquela época de andar de skate, jogar Atari, brincar, correr etc. E principalmente, saudade dos amigos e lembranças. É o ciclo natural agora vindo atrás de mim. 

Saudades, amigo. Você hoje é médico, eu professor. Mas seria bom por uma vez mais sermos apenas aqueles dois bons amigos, descobrindo um mundo de aventuras.

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