Quando a noite envelhece e morre
Ela amanhece com todos os anseios
Que todos julgavam perdidos nos
travesseiros
Mas que estão vivos no sangue que
inda corre.
Do que vale a
poesia se não fizer raiar o dia? Ela não é a luz do sol irradiado, mas seu
significado, porque não se alimenta o homem só de pão, mas de toda palavra [ainda
que em vão].
Mais fácil
seria vivermos como os pássaros que bicam o alimento da terra e depois voam à
revelia, mas o homem não voa, a não ser pela poesia.
E o que é a
poesia senão um louvor à vida com seus percalços despedaçados e rimas?
Ela não é a
filosofia que merecemos, mas a de que precisamos. Precisemos, portanto, o tom
das palavras faladas: Com empatia! – para que no mundo haja mais poesia! Elas
podem ser tanto a alegria de viver, quanto a covardia em ofender.
Palavras são
tão eternas quanto a total entrega à Efemeridade, ou tão efêmeras quanto a
aceitação da Eternidade.
Já dizia a
poesia de Petrarca: "A morte seria menos cruel se [pudesse] portar esta
esperança à viagem incerta, já que o espírito cansado nunca poderia em um porto
mais gentil ou em um túmulo mais quieto deixar para traz suas carnes e ossos
agitados".
Mas chega
outro e diz: "Não faças versos sobre acontecimentos [...] Nem
me reveles teus sentimentos [...] Chega mais perto e contempla as
palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela
resposta, pobre ou terrível que lhe deres: Trouxeste a chave?" (Drummond).
Então o que é
a poesia, irmão? Sentimento ou razão? Palavras jogadas a ermo em vão? Não!
Proponho outra
questão: se é a poesia um capricho humano, o que é o homem sem seus caprichos?
O problema da
poesia é que ela nos mantém acordados nas noites sempre serenas, deixando-as
menos amenas, mas isto não é só culpa da poesia, ou da filosofia, nem do
momento de grande epifania que inevitavelmente se aproxima e que teima em não
se revelar. É também a agonia de sobreviver, o medo de se esquecer das contas a
pagar, do lar a sustentar... Poetas e homens, iguais nessa questão!... E da
paixão! Sobretudo a angústia de não se esquecer de um amor perdido! Esta
maltrata a todos, poetas ou não.
Logo será o
despertar, mas até lá...
... Só as
palavras povoam os sonhos de que precisamos, não importando quais sejam. Se em
vão as sonhamos ninguém sabe.
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