domingo, 11 de outubro de 2015

Despertar (Renan)

Quando a noite envelhece e morre
Ela amanhece com todos os anseios
Que todos julgavam perdidos nos travesseiros
Mas que estão vivos no sangue que inda corre.

Do que vale a poesia se não fizer raiar o dia? Ela não é a luz do sol irradiado, mas seu significado, porque não se alimenta o homem só de pão, mas de toda palavra [ainda que em vão].

Mais fácil seria vivermos como os pássaros que bicam o alimento da terra e depois voam à revelia, mas o homem não voa, a não ser pela poesia.

E o que é a poesia senão um louvor à vida com seus percalços despedaçados e rimas?

Ela não é a filosofia que merecemos, mas a de que precisamos. Precisemos, portanto, o tom das palavras faladas: Com empatia! – para que no mundo haja mais poesia! Elas podem ser tanto a alegria de viver, quanto a covardia em ofender.

Palavras são tão eternas quanto a total entrega à Efemeridade, ou tão efêmeras quanto a aceitação da Eternidade.

Já dizia a poesia de Petrarca: "A morte seria menos cruel se [pudesse] portar esta esperança à viagem incerta, já que o espírito cansado nunca poderia em um porto mais gentil ou em um túmulo mais quieto deixar para traz suas carnes e ossos agitados".

Mas chega outro e diz: "Não faças versos sobre acontecimentos [...] Nem me reveles teus sentimentos [...] Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível que lhe deres: Trouxeste a chave?" (Drummond).

Então o que é a poesia, irmão? Sentimento ou razão? Palavras jogadas a ermo em vão? Não!
Proponho outra questão: se é a poesia um capricho humano, o que é o homem sem seus caprichos?

O problema da poesia é que ela nos mantém acordados nas noites sempre serenas, deixando-as menos amenas, mas isto não é só culpa da poesia, ou da filosofia, nem do momento de grande epifania que inevitavelmente se aproxima e que teima em não se revelar. É também a agonia de sobreviver, o medo de se esquecer das contas a pagar, do lar a sustentar... Poetas e homens, iguais nessa questão!... E da paixão! Sobretudo a angústia de não se esquecer de um amor perdido! Esta maltrata a todos, poetas ou não.

Logo será o despertar, mas até lá...


... Só as palavras povoam os sonhos de que precisamos, não importando quais sejam. Se em vão as sonhamos ninguém sabe.

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